quinta-feira, 17 de outubro de 2013

MANIFESTO PAULISTANO

Que a partir de agora:
Muros altos venham abaixo
Fronteiras invisíveis apareçam
Como velhos escombros
Opiniões formadas desinformem-se
Para a construção de mentes abertas
Palavras sejam as armas da resistência
E os duelos, só de rimas.

A partir de hoje:
Seremos mais do que temos
Duvidaremos sem perder a fé
Faremos o futuro no presente
Sem as imperfeições do pretérito
Ocuparemos o coração das ruas
Sem tirar os pés da calçada
Então, preencheremos o vazio das almas.

De hoje em diante:
Desverticalizaremos novos horizontes
Despoluiremos os rios do preconceito
Que jorram o sangue negro das quebradas
Descumpriremos o poder das armas
Para vivermos a idade da razão
Destituiremos quem não nos representa

Enquanto caminhamos em direção a Luz.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

OUTONO

Na terra da garoa
O outono tudo enxuga
Secam olhos e gargantas
Corações e mentes
Pelas partículas de poeira
Que penetram invisíveis
No inconsciente coletivo
Vivem todos a espera
Da chuva milagrosa
Que lava pés
Inunda a alma
E irriga as terras inférteis
Ou de um simples copo d’água
Que também pode matar
Pois há que se descobrir
A dose certa
Antes que as árvores

Vistam-se por completo.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O CHEFÃO

         Aproveitei as férias e revi um dos meus filmes preferidos: O Poderoso Chefão. Pode parecer estranho, mas se me perguntassem quais os filmes que marcaram minha infância e início da adolescência, no topo da lista estaria a saga de Dom Vito Corleone e sua família. 

E não é pela sua imensa qualidade. Todo mundo sabe que o filme é um clássico, vencedor de Oscars, Palma de Ouro em Cannes, tem atuações esplêndidas e marcou uma época. Um ícone. Porém, naquele tempo, isto era irrelevante pra mim.

Lembro-me de quando passou pela primeira vez na televisão, alguns anos depois de seu lançamento. Fiquei impressionado com tamanha violência (mesmo com tantos cortes, que só descobri anos mais tarde). Porém, não é uma violência gratuita. O filme mostra, de forma crua, sem máscaras, que o mundo é cruel, as pessoas não são boas (nem totalmente ruins), que a vida nunca foi e nunca será um mar de rosas, que nem tudo é como parece ser.  Com a mesma desenvoltura que um membro da “família” estourava os miolos de um inimigo, afagava os cabelos da esposa, filhos ou netos. Tratavam seus negócios escusos como se fosse a atividade mais normal de Nova York.

O crime organizado existe em qualquer lugar, nos países subdesenvolvidos e nos de primeiro mundo. Enquanto uns acreditam na justiça e nas instituições, outros, menos ingênuos, entenderam que os “Corleones” não foram extintos, evoluíram com o tempo, espalharam-se como um tumor pelos meandros do poder instituído e que há muito aposentaram as metralhadoras para utilizar a mídia.

Aqui, em terras verde e amarelas, os antigos banqueiros do jogo do bicho, de atuação restrita às suas comunidades, ficaram obsoletos frente ao poder tentacular de Carlinhos Cachoeira e seus inúmeros políticos e empresários no bolso do paletó. Este sim, uma versão tupiniquim a altura dos personagens de Marlon Brando e Al Pacino.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

PAIXÃO ALVIVERDE



Fernando, meu irmão mais velho, me perguntou outro dia em uma de suas raras visitas, durante uma partida do Corinthians na TV.

─ João, até hoje não sei como você se tornou palmeirense...

Na hora não raciocinei muito sobre o assunto e respondi com uma boa dose de deboche.

─ Porque é o melhor time, lógico!

E continuamos a conversar sobre a vida enquanto assistíamos ao jogo. Tanto ele como o Oswaldo, o segundo, são corintianos e o Valter é santista. Minha mãe diz que meu pai era também um simpatizante do Santos Futebol Clube. A lógica seria que eu, o mais novo, seguisse um deles. Normalmente, a paixão clubística é hereditária, passa de avô para pai, de pai para filho, de irmão para irmão e por aí vai. Fiquei imune a este clichê e me livrei desta sina. Tornei-me um apaixonado torcedor alviverde desde que comecei a gostar de futebol.

Não sei se foi a linda camisa ainda sem patrocínios, o belo distintivo com suas oito estrelas ou fato de ser o melhor time do período pós Copa de 1970. Ou porque nenhum dos meus manos é torcedor fanático, nunca me levaram pra ver um jogo no estádio. Acredito que foi uma mistura disso tudo e, principalmente, um caso de amor incondicional a primeira vista.

Tentei responder a mim mesmo a pergunta do início e fiz um esforço enorme para me lembrar do exato momento em que me tornei palmeirense. Não passavam muitos jogos na televisão naquele tempo e o noticiário sobre futebol era escasso. Porém, já existia a revista Placar e seus pôsteres estampados nas bancas de jornal. Através deles, decorei toda a escalação daquela equipe. Eles eram meus herois: Leão, Luis Pereira, Ademir da Guia e Leivinha eram mais incríveis do que o Capitão América, Homem Aranha, Batman ou o Superman. Foi ali que tudo começou, entre os meus seis ou sete anos. Todo torcedor (de qualquer clube) gaba-se de que é o mais apaixonado. A verdade é que não existe torcedor infiel. Uma vez escolhido o time do coração, a fidelidade a ele é eterna e irrestrita até o último fio de cabelo.

Comigo não foi diferente. Fiz minha escolha, sem a influência de ninguém e me apaixonei pelo Verdão. No início foi fácil: campeão brasileiro duas vezes seguida, mais três do Paulistão, vencedor de torneios internacionais e a bagagem que eu recebi de um clube vencedor. Duro foi quando vieram os anos de chumbo. Só mesmo com muito amor pra aguentar dezessete anos sem títulos e muita zoação. Passei toda a minha adolescência indo à inúmeros jogos, no Palestra, no Morumbi, no Pacaembu e onde mais o time jogasse. E o jejum continuava. Paradoxalmente, a paixão só crescia.

 Desde os primeiros anos de Palestra Itália foram títulos atrás de títulos e a fama de time que jogava bonito. Era a Academia! Tudo mudou a partir de 1976. Por isso, os torcedores mais velhos tornaram-se chatos, a turma do amendoim ficou mais crítica e os corneteiros cada vez mais – e insuportavelmente - céticos. Não estávamos acostumados com isso. Afinal, a pecha de sofredor era para o pessoal do Parque São Jorge, não para nós

Aí então veio a Era Parmalat e a explosão do gozo, em 1993, na goleada sobre o arquirrival. Estávamos novamente em nosso lugar de direito. Hoje, vivemos de títulos esporádicos, rebaixamentos, a espera do retorno dos tempos acadêmicos, de novos divinos ou santos. O novo estádio e o centenário reascendem a nossa esperança. Afinal, ela sempre foi verde.

E agora? Está respondida a sua pergunta meu irmão?

 


domingo, 26 de junho de 2011

COLUMBO, O TRIUNFO DA INTELIGÊNCIA

Existem atores que, de tão identificados com um determinado personagem, parecem não ter mais vida própria. Os nomes do criador e da criatura se misturam como que por osmose. Quando o locutor anunciou na TV “morre, aos 83 anos, o ator americano Peter Falk...” eu emendei, na hora, antes mesmo dele completar a frase; “... o Columbo!”.


Você que tem mais de quarenta anos sabe do que estou falando. Se for mais jovem, talvez nunca tenha ouvido falar. Após àqueles seriados cômicos dos anos 1960 – Jeannie é Um Gênio, Agente 86, A Feiticeira –, os americanos, na década seguinte, passaram a investir no gênero policial de um jeito diferente do cinema. A tônica eram os detetives fora dos padrões conhecidos: o gordo Cannon; Kojak, o careca que chupava pirulito; Barnaby Jones, o idoso.


Columbo fazia parte desta leva de tiras. Era baixinho, caolho, usava sempre um casaco surrado, fumava charuto, nunca dava um tiro sequer. O seriado também fugia dos clichês. Logo de cara, o expectador era apresentado ao assassino e aos detalhes de como cometera o crime. Só então surgia Columbo. O grande barato era vê-lo em ação tentando destruir os álibis quase perfeitos. Ele parecia muito confuso em suas investigações, mas era só aparência. Seu método dava aos culpados a impressão de que era um idiota. E a partir daí cometiam seus deslizes.


Nem preciso dizer que o seriado era o máximo. Impossível não ter simpatia por um detetive simplório, muitas vezes mal tratado pelos vilões, que, com sua perspicácia, resolvia todos os casos. Columbo/Peter Falk faz parte do imaginário da minha infância e adolescência. Ele personificava o triunfo da inteligência, do raciocínio, sobre o físico, a violência. Algo quase impensável nos dias de hoje.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Memórias

“Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá...”. Assim falou o poeta sobre sua cidade natal. A minha não tem belezas naturais, nenhuma palmeira, nem um sabiazinho sequer. Mas é a minha terra, seu DNA está gravado em mim.

Foi onde vivi todas as alegrias e dificuldades da infância e adolescência, onde aconteceram quase todas as minhas estreias: as primeiras palavras, os primeiros passos, os primeiros escritos, o primeiro beijo... Bem, a “primeira vez” mesmo foi em outros ares, longe de lá.

Osasco cresceu, expandiu seus horizontes, criou identidade própria. Antigamente, era só uma cidade dormitório, dependente de SP em quase tudo. Morei lá por 25 anos, mais da metade da minha vida. Hoje está quase irreconhecível. Porém, ainda me sinto em casa, no meu terreno, como se nunca tivesse saído dali.

Meu Deus! Mas, porque tanta nostalgia? Simples acaso. Estive por lá na manhã de ontem, 19 de fevereiro de 2011, exatamente no dia em que completava 49 anos de sua emancipação. E eu nem me lembrava disso! Em meio a toda movimentação para as comemorações de tão importante data, algumas recordações vieram à tona. Lembranças que dariam vários posts. Quem sabe...

Sou um paulistano por adoção e de coração. Entretanto, minhas raízes, as mais doces memórias da minha vida estão naquele pedaço de chão, não muito distante daqui, um prolongamento desta megalópole insana, mas sempre acolhedora que é São Paulo.

Por tudo isso, aqui vão todos os meus salves e vivas para a minha Osasco, sem belas matas e aves gorjeando. Quase uma cinquentona, mas ainda com o espírito jovem.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Agora, um imortal

Quem ama o futebol só tem a lamentar o dia de hoje. Não quero falar do ser humano, do caráter do cidadão Ronaldo Nazário de Lima. Somente do jogador. Já escrevi sobre Ronaldo aqui, logo que retornou ao Brasil pelo Corinthians e marcou aquele gol de cabeça nos minutos finais contra o meu Palmeiras. Todos os elogios e homenagens feitos a ele serão poucos. Ele foi, dentro de campo, um verdadeiro Fenômeno.

Um jogador de uma qualidade e objetividade únicas. Um atacante como poucos vi em mais de três décadas em que acompanho futebol. Somente as contusões foram capazes de pará-lo. Em alguns momentos, nem elas. Pouco antes da Copa de 2002 era considerado morto para o futebol. Ressurgiu das cinzas e tornou-se um mito.

Por tudo o que fez nos gramados, ele merecia uma despedida mais digna. Talvez devesse ter parado antes do fiasco contra o Tolima. Mas, a imagem que ficará dele é a do vencedor, da superação.

Os mais jovens podem dizer que nunca viram ninguém melhor do que ele. Para mim, um pouco menos. Vi goleadores como Zico, Romário, Careca, Dinamite, Van Basten. Porém, Ronaldo por mim será lembrado como um dos três melhores atacantes que desfilou pelos campos do mundo. Agora, um imortal da bola.




quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

RECEITA DE UMA TRAGÉDIA RECORRENTE

Junte fartas porções de descaso do poder público, uma boa dose de ignorância em relação ao lixo, grandes quantidades de falta de planejamento dos governantes e, para completar, água. Muita água! Pronto! É a receita de uma tragédia recorrente.

Ficamos atônitos assistindo mais um janeiro repleto de lama e luto. Tentamos entender porque tudo isso continua acontecendo. Aí vem, de novo, o sentimento de impotência e inutilidade. Muitas são as respostas a tantos questionamentos, mas, poucas as perspectivas.

Desta vez, nem os ricos foram poupados. Nem algumas autoridades, como se as forças naturais quisessem se vingar de tanta incompetência e inércia. Remediar o problema após a morte de centenas de pessoas é um desrespeito ao ser humano.

Ok, o clima no planeta está maluco. Porém, jogar a culpa somente nele é de uma irresponsabilidade monstruosa. E não adianta só esperar a boa vontade de quem quer que seja para amenizar as consequências das próximas chuvas.

É como sempre digo: somente a mobilização das pessoas, cobrando (pra valer) atitude do poder público vai tirá-los do conforto de seus gabinetes. Somente quando o povo começar a ter a noção de que o espaço público é de todos, e que os problemas são de todos, é que as coisas terão um rumo diferente.

Já passou da hora de deixarmos de olhar para o nosso próprio umbigo, senhoras e senhores. Ou, se preferirem, chorar mais mortes no próximo janeiro.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

CONTO DE PRIMAVERA V – Morte e Ressurreição

Não sabiam em que ponto haviam se perdido. Naquele momento, parecia não existir mais nada. Em vez de um grande vôo, veio a queda livre. Assim como Ícaro, suas asas derreteram-se ao se aproximar do sol incandescente. Estatelaram-se no chão. Suas chagas ficaram expostas a céu aberto. Utilizaram seus melhores disfarces para que ninguém as visse. Sobreviveram. Ela voltou a sua vida pacata e perfeita, onde antes acreditava que nada poderia atingi-la. Ele conheceu uma nova realidade: mesmo com todas as possibilidades de ter uma nova paixão, preferiu lamber suas feridas na solidão. A morte estava decretada.
Impossível expressar o tamanho da dor que sentiam. Não há nada pior no mundo do que a frustração pela perda de um amor que parecia imortal. Como explicar tantos desencontros em um encontro tão feliz como o deles? Apesar de tanto desencanto, não desistiram de amar. Quando a convivência diária voltou, o desejo e o tesão mostraram-se intactos. Em todo tempo que ficaram afastados carregaram em si um fio de esperança que os mantiveram vivos.
Teriam de tentar reconstruir o que parecia ter desmoronado. Era um trabalho árduo e cheio de desafios. Estavam juntos de novo, porém, separados por um muro de perdas e lamentações. O espelho que os refletiu parecia ter se quebrado. Mas, descobriram que ele foi blindado no vidro mais puro que existe, pelo fogo que os incendeia. Eis que, contrariando toda a lógica deste mundo, chegaram a conclusão de que não havia a mínima possibilidade de seguirem afastados. Aos poucos, a velha química estava de volta, ressuscitada. E as cobranças também. Ele a queria novamente por inteiro. Entretanto, ela ainda não se sentia preparada para tanto.
Seus dias transformaram-se em constantes batalhas pela posse um do outro. Ele, com seu temperamento forte e controlador, tornava o convívio diário infernal. Ela lutava contra todas estas dificuldades com o pouco de serenidade que lhe restava. A espera pelo melhor momento para se amarem como queriam era dolorosa para eles.
Após muitas e intermináveis quedas de braço (sem vencedores), chega a hora da explosão de sentimentos, da comunhão de seus corpos. Mas, o destino lhes prega outras peças. Exagerados que são, extrapolam seus limites físicos a ponto dela não conseguir se locomover. Triste ironia. Ele aguarda, ressabiado. Quando ela se restabelece e parece pronta, um novo tombo. Na ânsia de extravasar todo o sentimento represado, tropeçam em sua própria volúpia de amar. Foi como se tirassem o doce das mãos de uma criança. Eles ficam atônitos, incrédulos diante de mais este revés. Existiam forças invisíveis conspirando contra eles? A resposta não veio e talvez não venha nunca.
Não, este amor não pode sobreviver a mais este infortúnio. Outro, talvez. O deles continuou de pé. Porque está acima de todas as racionalidades, dos temores e da lógica que rege a vida dos outros mortais. Mesmo o outrora imenso e incontrolável medo que sempre a envolveu durante todo o período que estão juntos não consegue mais superar seu sentimento de se entregar a ele de novo. Ninguém os entenderia se soubessem de seus desejos. A liga de aço inoxidável que construíram não enverga e não enferruja nunca. É a perfeita aliança do verdadeiro amor.
Os planos e projetos estavam de volta, em meio as lutas cotidianas que travavam em suas vidas paralelas. A ele, só resta esperar que ela se recupere para tê-la novamente em seus braços da forma como sempre sonhou: como o macho que tem total domínio sobre sua fêmea e saciar a sede que sentem um do outro. Sabem que somente assim serão felizes por completo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

80 anos de História

Dona Benedicta - com “c” mesmo - faz 80 anos neste sábado, dia 6. Com muita disposição, discernimento e vontade de viver. Ao vasculhar seu baú de fotografias antigas (a mais velha data de 1935!) comecei a pensar em sua trajetória até chegar aqui. Coisas que já sei e outras que não foram reveladas. Velhas relíquias guardadas com carinho, que falam por si só.

Imagens de uma infância aparentemente tranquila. Viagens à praia do Gonzaga e à Aparecida com a falecida irmã mais velha, Olga. Entretanto, só há uma foto com toda a família: pai, mãe e as filhas. Imagens que mostram uma jovem muito vaidosa, bem vestida. Nada além do normal. Nunca soube se foi namoradeira. É provável. Mas, não é coisa que se pergunte assim, de repente, sem uma preparação prévia.

Ainda jovem, começa a aparecer a figura de uma criança em seu colo. Em todas as fotos, somente ela e seu filho, Fernando. Foi um divisor de águas em sua vida. Imagino o que deve ter passado, em pleno 1954, com todo o moralismo da época. Em outra fotografia emblemática, a do casamento, em 1957, não parece muito feliz. Está com a aparência séria. Em um corte rápido, Benedicta aparece em sua vida conjugal. Uma vida muito mais simples, a única que Olavo, seu marido, pôde lhe dar. A vaidade desaparece quase que por completo. Para completar a família vieram outros três filhos.

As fotos com seu pai, Luis, quase sempre com sua inseparável sanfona, demonstram a proximidade e a afetividade que nutriam um pelo outro. Sua mãe, Sofia, pouco aparece. Os pais separaram-se quando Benedicta era criança. Sua relação com Dona Sofia foi difícil até o fim, com brigas diárias e intermináveis, das quais fui testemunha.

Quando fica viúva, aos 44 anos, Benedicta tem de se virar para sustentar os filhos, o mais novo com apenas oito anos de idade. Nunca havia trabalhado antes. Então, o destino fez surgir uma mulher brava e lutadora, porém, pouco afetiva e carinhosa. Sua vaidade renasce. Os filhos cresceram, casaram, vieram os netos. Hoje, com a idade avançada, mora sozinha, mas não vive só. É extremamente independente: caminha, viaja, faz compras, resolve problemas. Por onde anda faz amizades. Porém, pelo seu temperamento forte e controlador, não conseguiu conquistar a simpatia de suas noras. Ninguém é perfeito mesmo. Nem as mães.

Cada vida que chega tão longe daria um livro. A de Dona Benedicta, com um “c” no meio, não é diferente. Este é apenas um recorte de sua vida, uma singela homenagem. Aquele menino de oito anos, órfão de pai, é este que vos escreve. Parabéns minha MÃE pelos 80 anos vividos com tanta intensidade. Que Deus te abençoe e te conserve com saúde. E que sua longa história ainda demore pra chegar ao fim.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mudança de paradigmas

Qual o significado da eleição de uma mulher para comandar o país? Talvez o mesmo que a eleição de um negro para a presidência dos EUA. Independente das posições políticas e partidárias de cada um, que este seja o início de uma mudança de visão em relação à competência do sexo feminino e dos afrodescendentes para cargos de chefia. Algo que ainda não conseguimos superar neste país machista e preconceituoso.

Porém, ainda é pouco. O número de mulheres que chefiam ou já chefiaram uma nação é pequeno. Pequeno demais se considerarmos a importância que sempre tiveram. Não lhes faltam competência, nem coragem. Não lhes faltam nada. Estamos começando a mudar essa forma distorcida e elitista de enxergar a competência das pessoas, longe dos estereótipos. O jeito tucano de pensar: só os homens, brancos e velhos, do sul e do sudeste é que podiam chegar tão alto.

Se pensarmos na quantidade de negros em cargos majoritários, a situação é pior. Obama é uma feliz exceção. Aqui no Brasil, a possibilidade de termos um presidente negro é quase nula, já que existem pouquíssimos deputados, senadores, prefeitos ou governadores afrodescendentes. Precisamos melhorar muito ainda pra sermos um país justo. A liberdade de credos também é uma utopia distante.

Vivemos um momento importante, de transição, de mudança de paradigmas. Escrevemos a História no exato momento em que ela acontece. Entretanto, não devemos parar logo após as eleições. A vida acontece mesmo quando nos abstemos dela.

sábado, 24 de julho de 2010

Retrato

Quando nos vemos cansados de esmurrar a parede, de encarar a luta gloriosa.
Quando nos sentimos vencidos pelos fantasmas que nos rodeiam.
Quando nos compreendemos incapazes de modificar o amor à nossa imagem e semelhança.
Quando, sem querer, nos achamos a beira do precipício, sem poder dar um passo a frente, nem voltar atrás.
Quando a solidão insiste em permanecer, mesmo que seja dito o contrário.
Quando deixar jorrar o sangue parece melhor do que estancar a ferida.
Nesses horas é melhor buscar o silêncio que acalma, a distância que fere, a paz que nunca existiu.
E trazer de volta a leveza e a esperança perdidas.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

NOVA ORDEM

Acabou a Copa da África, a Espanha saiu-se vencedora com um futebol bem mais agradável de ver do que o vinha sendo praticado desde a derrota do Brasil na Copa de 1982, justamente na Espanha. Nada de volantes truculentos e sistemas excessivamente defensivos. Os espanhóis fizeram poucos gols, mas, atacando sempre. Levaram menos gols ainda, porém, se defendiam com a bola nos pés.

Há algum tempo atrás escrevi que a vitória da Itália naquela Copa foi a morte do futebol arte. A estratégia utilizada pelos italianos para vencer o torneio foi a que vingou por muitos anos. Entravam em campo para não levar gols. Quando dava, contra-atacavam. E foram extremamente competentes nisso. Este modelo foi vencedor até 2006, com poucas exceções. Felizmente, para o bem dos que amam o futebol mais vistoso, ele foi derrotado na Eurocopa de 2008 e na Copa de 2010.

O que eu espero agora é que o estilo de jogo imposto pelos espanhóis seja predominante nos próximos torneios importantes, principalmente pelas seleções (e clubes) que têm talentos para isso. O Barcelona faz isso há anos. A Holanda foi pela contramão e ficou descaracterizada. A Argentina já tentou fazê-lo na África do Sul. Entretanto, esbarrou na falta de um técnico que soubesse montar um bom esquema para tal.

Que o legado da vitória espanhola seja exemplo para o novo técnico da seleção brasileira. Jogadores para isso nós temos. Que seja o início de uma nova ordem no futebol mundial. E de uma nova mentalidade no futebol brasileiro.

terça-feira, 29 de junho de 2010

CONTO DE PRIMAVERA - PARTE IV

Chegaram a por um ponto final em sua breve história, apesar da força do amor que insistia em não morrer. Sentiram-se fracos e derrotados como nunca antes. Tentaram extirpar de suas entranhas tudo o que cultivaram todo este tempo. Entraram em total desespero. Como poderiam seguir separados?
Ele era o epitáfio de sua paz, aquela que perdeu quando se encontraram. Porém, não conseguia viver sem sua presença. O fim poderia significar o retorno da tranquilidade que ele não queria. Dois destinos entrelaçados por sentimentos intensos e ameaçados pela visibilidade. Dois seres tão marcantes e complexos, vencidos pelo imprevisível.
Seus dilemas se exacerbaram, ela não conseguia trair suas crenças interiores. Queria a permissão de sua consciência, de sua devoção, para viver seu grande amor. Acreditava em milagres. E, agora, implorava por eles, pelo improvável.
Mais uma vez, a imprevisibilidade acontece. Mesmo com todos os motivos para ir embora, ele resolve ficar novamente. Por quê? Porque, se a argamassa de amizade era indestrutível, a de amor foi modelada em espessas camadas de uma liga inoxidável. Faria qualquer coisa para tê-la de novo, inclusive ir contra a sua própria natureza. Passou a acreditar (mesmo cético) em soluções milagrosas.
Era impossível viver apenas do passado, mesmo um passado recente e forte como o deles. Resolveram seguir em frente, mas ainda não como queriam. Os desatinos e destemperos dele, aos poucos, foram cedendo espaço a uma maior serenidade e compreensão. E assim, os dilemas e receios dela começaram a se dissipar.
A aliança que construíram solidificava-se a cada dia, graças à convivência mais pacífica e as incansáveis juras secretas. E, justamente quando não mais se perguntavam o porquê dessa união, as respostas surgiram no horizonte: salvação e plenitude. O destino os uniu para que salvassem o alicerce de suas vidas e se tornassem seres mais completos. Entenderam que se tudo acontecesse no início com o ímpeto que gostariam, seria tão efêmero que não suportaria tantas dificuldades. A partir daquele momento começariam a ensaiar com mais liberdade seus desejos.
Porém, ainda faltava à ela firmar a decisão de sacramentar os elos de ligação que tanto necessitavam. Um filme, um ícone, uma frase de impacto acendeu nela a luz que faltava: entendeu que se pertencia, que era dona de sua própria morada e senhora de seu destino. Sentia-se como se fosse duas mulheres diferentes, duas vidas distintas, cada qual com suas peculiaridades. Para ele, esta ambigüidade era natural, viveu assim até que ela apareceu para colocá-lo nos eixos. Enfim, seus corações se rejubilaram diante das infinitas possibilidades que se abriam.
Criaram jogos de sedução para burlar a distância que os separavam, como entrada para o prato principal da (nada) santa ceia que preparavam com afinco. Algumas pitadas de libido para apimentar o que já era saboroso. Para este banquete guardavam os melhores trajes de gala que possuíam: a nudez total. Imagens e palavras quentes temperavam um menu de opções que os deixavam mais e mais sedentos um do outro. Toda essa energia guardada provocava faíscas, reflexos de suas personalidades. Porém, nada mais poderia atingi-los.
Os longos dias de frio que passaram em pleno verão começaram a esquentar no outono e prometiam arder no inverno se aproximava. Ligaram o piloto automático para seguirem a espera, na medida do impossível. Até que possam alçar o grande vôo de suas vidas, com as asas com que foram presenteados.

sábado, 19 de junho de 2010

Imortal

Pois é, foi-se mais um gênio da raça humana. Um dos grandes das letras na língua portuguesa da História. Deixou-nos o mestre da razão, justamente durante o circo da Copa, nestes tempos em que a racionalidade não predomina. Calou-se o crítico mordaz deste mundo globalizado, o contestador de todas as religiões.

Saramago deixa um legado de independência em relação ao seu discurso, de liberdade do pensamento. Homem de opiniões fortes e polêmicas, posicionou-se sobre todos os temas importantes de seu tempo. Sua obra nos faz refletir sobre nossa condição neste mundo. Era um questionador, um genial irreverente.

Uma grande e irreparável perda. Este ateu e comunista convicto foi um ícone em vida. José Saramago agora é um imortal. Não um imortal das academias repletas de escritores medíocres. Sua arte viverá enquanto houver inteligência. Algo raro nos dias de hoje. E, que agora ficará mais difícil ainda de se ver.


quinta-feira, 10 de junho de 2010

O espetáculo vai começar

Vai começar o maior espetáculo esportivo do planeta. Os amantes dos Jogos Olímpicos que me perdoem, mas a Copa do Mundo mexe muito mais com os nossos sentimentos. Àqueles mais céticos, que vêem o futebol como forma de manipular as massas, deixem suas intolerâncias de lado e aproveitem o grande circo do futebol, esta metáfora da vida e da guerra. As emoções ficam exacerbadas, a flor da pele: alegrias, decepções, raiva, euforia, tristeza.

Será a décima copa da qual tenho lembranças. Por pior que seja o time, por mais que eu xingue o técnico e alguns jogadores, sempre acabo torcendo pela seleção brasileira. Em nenhuma hipótese para a Argentina. O clima de copa do mundo me contagia. Vai chegando a hora e as ruas começam a ser enfeitadas e pintadas, as camisas vão saindo do armário para tirar o cheiro de mofo, os bolões vão se multiplicando por todos os lados, as conversas nos bares, as discussões acaloradas, as noticias sobre o mundial que monopolizam a TV, o rádio, a internet. Uma maravilha!

Melhor ainda quando começam os jogos. Se pudesse veria todos eles. Os hinos sendo executados, os jogadores perfilados, cantando ou tentando cantá-los (a maioria das mulheres adora este momento para ver os craques de perto). E, enfim, a bola rolando. Quais serão as zebras desta vez? E os favoritos?

Vejo a Argentina com grandes chances de levar o caneco pela terceira vez. Digo isso com muita dor no coração. Se Messi, melhor jogador do mundo, reeditar suas melhores partidas no Barcelona, vai ser difícil segurar os portenhos. Acho que a Inglaterra tem boas possibilidades também. Mas, dependem muito de seu grande jogador, Wayne Rooney. Depois, ponho o Brasil (apesar do time mediano), a Espanha e seu belo toque de bola, a Holanda, com seu melhor time desde 98, e os favoritos de sempre (mesmo jogando mal): Alemanha e Itália.

As zebras...bem, desta vez não vejo nenhuma que possa assustar. Talvez a Costa do Marfim ou o Chile de “El Mago” Valdívia. A Coréia do Sul tem chances de se classificar em seu grupo. Mas, não creio que não irá muito além disso. Enfim, vai começar a maratona de jogos. Veremos quem estará na final, dia 11 de julho.




sábado, 15 de maio de 2010

Os Escolhidos

Saiu a lista dos convocados para a Copa da África. Já sabemos quem são os escolhidos e os sete que ficarão secando para ver se carimbam seu passaporte no lugar de algum azarado. Nunca vi uma seleção ser tão criticada e com resultados tão bons no currículo. Afinal, o trabalho de Dunga deve ser tão questionado assim? O técnico da seleção deve convocar os jogadores que estão em melhor fase no momento ou formar um grupo de confiança e blindá-lo contra todos independente do futebol que vem jogando como fez o capitão do tetra? Fico com a primeira opção. Adoraria ver Ronaldinho, Diego, Hernanes, Ganso, Neymar entre os 23 convocados. Gostaria de ter sido surpreendido novamente.

Suas justificativas são compreensíveis. O Gaúcho deixou Dunga na mão quando o técnico mais precisou dele. Por que ele o convocaria agora? Com uma seleção cheia de grandes jogadores na última copa, decepcionamos. O time jogou de salto alto, faltou empenho. Foi nosso fraco desempenho quatro anos atrás que provocou a mudança de técnico e de estilo. Entrou em cena o futebol menos vistoso e mais brigador. O time joga um futebol burocrático, duro, um espelho do que o nosso técnico fazia em campo.

Como sempre, somos um dos favoritos. A seleção está a um mês de sua estréia na África do Sul e com boas credenciais ao título. Ao contrário de 2006, a equipe não possui craques que desequilibram. Kaká é a única e honrosa exceção. E mesmo assim, não está em boa fase. E se ele se machucar? Teremos de aguentar uma equipe cheia de volantes cabeças de bagre. Uma coisa é vencer a Copa América, Copa das Confederações, ficar em primeiro nas Eliminatórias. Copa do Mundo é outra história. Não me parece o suficiente para conquistar o planeta novamente.

Enfim, o time é esse. Certo ou não, Dunga demonstra saber o que quer. Torcerei pela seleção como sempre. Mas, com um pé atrás. A espera que o acaso, que a sorte de uns e o azar de outros faça justiça. E que Dunga possa por em campo o que o nosso futebol tem de melhor.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

CIDADÃOS DE LIXO

Pessoas sem voz vivendo sobre o lixo da indiferença, do descaso, da corrupção. O desmoronamento dos sonhos de quem ainda se dá ao luxo de sonhar. Uma enxurrada de desculpas esfarrapadas tentando justificar o injustificável.

Estamos cansados de chorar catástrofes perfeitamente evitáveis, de contar os mortos e os sobreviventes, que logo serão esquecidos. Parece até que vivem em outro universo. E, de certa forma, vivem mesmo.

Enquanto eles forem tratados (pelas autoridades, elites e pessoas comuns) como cidadãos de lixo, nada muda. Enquanto suas vozes estiverem soterradas sob toneladas de medo e conformismo, tudo continuará como está. Novos Morros do Bumba deslizarão. E, continuaremos a contar e a esquecer nossos mortos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Falso Domínio

Bem, na falta de um novo texto (vocês sabem, o tempo anda escasso, excesso de trabalhos...), resolvi reeditar este que escrevi no ano passado. Minha humilde homenagem à vocês...


Ser, ao mesmo tempo, Madre Tereza e Margareth Tatcher, não é tarefa difícil pra vocês. Passionais, passivas, inteligentes, sem-vergonhas, puritanas, dissimuladas, quase sempre à beira de um ataque de nervos. Quem de nós, o chamado sexo forte, poderia ser tão completo assim?

Celebridades ou anônimas, mães, filhas, pais, maridos, esposas, amantes. Quantos homens são capazes de exercer uma dupla jornada, de suportar privações, abusos e, ainda, derramar cegamente seu amor por onde passa?

Há muito tempo desisti de tentar entendê-las. Não por acaso, vocês estão, hoje, no centro do meu universo. É a base que me sustenta e ajuda a seguir em frente, a me manter em pé, de cabeça erguida.

Suas curvas me embriagam. Sua capacidade de mutação diária me intriga. Seus mistérios, tão longe de qualquer compreensão, me fascinam. Sua obstinação, às vezes cansa.

E se o mundo fosse governado por vocês? Como seria? Com sua força e determinação teríamos menos força bruta e mais diálogo. Muito mais diálogo. Nosso suposto domínio machista me parece falso. Vocês é que mandam. E já estão começando a perceber isso.

Se analisarmos friamente, este 8 de março é mais um dia comemorativo criado pra vender bugigangas e aquecer o comércio. Mas, a frieza dos fatos é inimiga da poesia. E, já que o dia existe, não custa repetir: PARABÉNS e obrigado por existirem!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CONTO DE PRIMAVERA / PARTE III - O Início

Ficaram distantes algum tempo. Por trinta dias intermináveis tiveram apenas a voz, a escrita e algumas tentativas de contatos telepáticos para abrandar a saudade. Inutilmente. A necessidade de estarem juntos era quase um vício, uma dependência. Imploravam por um remédio milagroso que pudesse salvá-los. Mas, ele não veio.
Uma nuvem suspensa pairou sobre eles. O mesmo destino que os unira, agora os apunhalava por todos os lados. O pequeno castelo que construíram ameaçava ruir pelas vicissitudes de suas vidas. Grandes dilemas geravam enormes ondas de uma possibilidade que se avistava no horizonte. Ela tentou retomar (em vão) seu antigo projeto de vida, do qual ele não podia compartilhar. Uma verdade que ele deixara soterrada sob toneladas de esperanças. Agora, teria de ajudá-la a curar suas feridas e trazê-la de volta. E esperar. Naquele momento, restavam-lhes as lembranças de seus primeiros momentos, quando tudo começou.
Ela chegou em busca de paz. Quando o conheceu, a simpatia e o interesse foram imediatos. Assim que se apresentou a ela, sua atitude máscula e viril chamou-lhe a atenção desde o início. Algo raro em seu habitat. Ela ainda não conhecia suas qualidades e poderes, que fariam toda a diferença.
A expectativa para ele era de um ano de muitas mudanças e aventuras. E assim foi. De cara, sentiu-se atraído por aquela mulher exuberante e inalcançável. Sua inteligência surpreendeu-lhe positivamente. Da atração para a admiração foi um passo. Quando percebeu que havia conteúdo em toda aquela bela estampa, aproximou-se naturalmente.
A amizade consolidava-se a passos lentos e firmes. A conjunção de seus talentos gerava frutos inesperados. Suas opiniões tornaram-se necessárias. Já se importavam um com o outro. Sem perceber, sentiam a falta de um simples bom dia. Seguiam adormecidos sem saber do turbilhão que os despertariam para a paixão incandescente. Bastava apenas uma fagulha para que o fogo se acendesse. E ela veio, por descuido, sem aviso, em uma manhã como todas as outras. E que levou suas vidas rumo ao olho do furacão.
Como bons caçadores, aceitaram o desafio, mas, não se dobraram facilmente. Ela deixou-o se aproximar apenas para testar suas habilidades. Ele aproveitou-se da oportunidade única e utilizou-se de todas as suas armas para conseguir o que queria. As semelhanças entre si começaram a minar todas as chances de viverem algo descompromissado e passageiro. Ela resistiu o quanto pode. Ele insistiu mais do sabia que podia. E, entre perdas e ganhos, sobreviveram.

Mais uma vez, a fortaleza era posta a prova. Mas, ela possui um ingrediente que pode fazê-la manter-se firme, com ainda mais força: uma indestrutível argamassa de amizade verdadeira.