sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

PAIXÃO ALVIVERDE



Fernando, meu irmão mais velho, me perguntou outro dia em uma de suas raras visitas, durante uma partida do Corinthians na TV.

─ João, até hoje não sei como você se tornou palmeirense...

Na hora não raciocinei muito sobre o assunto e respondi com uma boa dose de deboche.

─ Porque é o melhor time, lógico!

E continuamos a conversar sobre a vida enquanto assistíamos ao jogo. Tanto ele como o Oswaldo, o segundo, são corintianos e o Valter é santista. Minha mãe diz que meu pai era também um simpatizante do Santos Futebol Clube. A lógica seria que eu, o mais novo, seguisse um deles. Normalmente, a paixão clubística é hereditária, passa de avô para pai, de pai para filho, de irmão para irmão e por aí vai. Fiquei imune a este clichê e me livrei desta sina. Tornei-me um apaixonado torcedor alviverde desde que comecei a gostar de futebol.

Não sei se foi a linda camisa ainda sem patrocínios, o belo distintivo com suas oito estrelas ou fato de ser o melhor time do período pós Copa de 1970. Ou porque nenhum dos meus manos é torcedor fanático, nunca me levaram pra ver um jogo no estádio. Acredito que foi uma mistura disso tudo e, principalmente, um caso de amor incondicional a primeira vista.

Tentei responder a mim mesmo a pergunta do início e fiz um esforço enorme para me lembrar do exato momento em que me tornei palmeirense. Não passavam muitos jogos na televisão naquele tempo e o noticiário sobre futebol era escasso. Porém, já existia a revista Placar e seus pôsteres estampados nas bancas de jornal. Através deles, decorei toda a escalação daquela equipe. Eles eram meus herois: Leão, Luis Pereira, Ademir da Guia e Leivinha eram mais incríveis do que o Capitão América, Homem Aranha, Batman ou o Superman. Foi ali que tudo começou, entre os meus seis ou sete anos. Todo torcedor (de qualquer clube) gaba-se de que é o mais apaixonado. A verdade é que não existe torcedor infiel. Uma vez escolhido o time do coração, a fidelidade a ele é eterna e irrestrita até o último fio de cabelo.

Comigo não foi diferente. Fiz minha escolha, sem a influência de ninguém e me apaixonei pelo Verdão. No início foi fácil: campeão brasileiro duas vezes seguida, mais três do Paulistão, vencedor de torneios internacionais e a bagagem que eu recebi de um clube vencedor. Duro foi quando vieram os anos de chumbo. Só mesmo com muito amor pra aguentar dezessete anos sem títulos e muita zoação. Passei toda a minha adolescência indo à inúmeros jogos, no Palestra, no Morumbi, no Pacaembu e onde mais o time jogasse. E o jejum continuava. Paradoxalmente, a paixão só crescia.

 Desde os primeiros anos de Palestra Itália foram títulos atrás de títulos e a fama de time que jogava bonito. Era a Academia! Tudo mudou a partir de 1976. Por isso, os torcedores mais velhos tornaram-se chatos, a turma do amendoim ficou mais crítica e os corneteiros cada vez mais – e insuportavelmente - céticos. Não estávamos acostumados com isso. Afinal, a pecha de sofredor era para o pessoal do Parque São Jorge, não para nós

Aí então veio a Era Parmalat e a explosão do gozo, em 1993, na goleada sobre o arquirrival. Estávamos novamente em nosso lugar de direito. Hoje, vivemos de títulos esporádicos, rebaixamentos, a espera do retorno dos tempos acadêmicos, de novos divinos ou santos. O novo estádio e o centenário reascendem a nossa esperança. Afinal, ela sempre foi verde.

E agora? Está respondida a sua pergunta meu irmão?

 


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