quarta-feira, 13 de maio de 2009

Velhas Correntes

Sou índio, sou negro
De sangue e de fé
Sem calo nas mãos
Nem samba no pé

Mas, nem por isso
Deixei de escutar
O choro contido
Suspenso no ar

Dos que tentam em vão
Sair das velhas correntes
Que inibem os mais fortes
E aprisionam os inocentes

Mas, nem por isso
Deixei de enxergar
A alma escondida
Debaixo do altar

Dos que sonham um dia
Voltar a viver como reis
Fazer da favela um quilombo
Dizer o que Zumbi já fez

Sou índio, sou negro
De corpo e de alma
Vivendo em conflito
Na taba e na senzala

Por tudo isso
Eu tento encontrar
A razão perdida
Nas ondas do ar

Dos que pensam que estão
Acima do bem e do mal
Presos na própria armadilha
Dentro do próprio quintal

Por tudo isso
Eu quero enfrentar
A estupidez refletida
No jeito de olhar

Dos que pensam que são
A luz da modernidade
Vivem como parasitas
Cegos pela futilidade.

À todos que lutaram e morreram por ela, a Liberdade.

sábado, 9 de maio de 2009

MÃES

Inaugurei este blog em pleno dia dos pais, no ano passado. Nada mais justo que agora, no dia das mães, escreva algo para e sobre elas. Mas, escrever o quê?

Parece que tudo já foi dito antes. Que seu amor é incondicional. Que são dedicadas e abnegadas ao extremo. Que, infelizmente, existem aquelas que abandonam, que desprezam, que espancam suas crias. Aquelas que geram filhos indesejados. As anti-mães. Ainda bem que são exceções.

As mães levam uma grande vantagem sobre os pais. Nove meses que fazem toda a diferença. Ali, em seu ventre, nasce um elo inquebrável, eterno. É o milagre da vida. E é assim por toda a natureza (menos com os cavalos-marinhos!). São as mães que educam, que nutrem, de alimento e sabedoria.

Mães amam cegamente, não importam como sejam seus filhos: santos, pecadores, belos, feios. São elas que carregam este mundo nas costas. Se as mulheres são o sexo forte, as mães são forjadas em titânio, pelo amor e pela dor.

Parabéns a todas as mães, em especial a minha, dona Benedicta (com “c” mesmo), 79 anos bem vividos e com saúde. E a Islania, mãe de minha única e amada filha Juliana. Mesmo sabendo que é mais uma daquelas datas criadas para aquecer o comércio, não deixe de dar um abraço na sua. Ela merece.

sábado, 2 de maio de 2009

Solos

No princípio, eram raros e extremamente curtos. Aos poucos, foram sendo aprimorados. Ganharam identidade e foram crescendo em importância e tamanho. Até que surgiram os especialistas, que o tornaram marca registrada, ícone. Ficaram longos e virtuosos. Às vezes, chatos. Caíram e desuso. Foram banidos do paraíso. Voltaram mais econômicos, sem perder o charme. E retornaram ao ostracismo. Onde estão hoje? Talvez escondidos em garagens, nos quatro cantos do planeta.

Os mais jovens devem achá-lo obsoleto e desnecessário. Os mais experientes veneram-no como uma entidade divina. Nem um e nem outro. Para mim, um solo de guitarra tem de ser uma extensão da música, tem de entrar na hora exata, ter feeling – aquele algo mais que te faz assobiar junto e se arrepiar quando escuta um. O melhor exemplo é a abertura e o solo de Little Wing, do mestre dos mestres Jimi Hendrix. É simples, mas tocado com extrema destreza e emoção. Só de pensar, já me emociono.

Detesto exercícios de virtuosismo, como fazem alguns idiotas como Yngwie Malmsteen e Eric Johnson. Aquilo não é Rock. Parece masturbação musical. O cara está lá em cima do palco dizendo: “olha como eu toco bem e rápido pra cacete!” Se acham seres superiores, acima do bem e do mal. Mas, na verdade, não passa de vaidade.

Rock and Roll é diversão, descompromisso. Tudo bem, uma boa técnica sempre engrandece a música. Que o digam, o próprio Hendrix, David Gilmour, Clapton, Jimy Page, Eddie Van Halen, entre tantos outros, que não me deixam mentir. O segredo é deixarem a soberba de lado e não se levarem tão à sério.

E isso vale para qualquer campo das artes. A arrogância, prepotência e o excesso de vaidade acabam minando o processo criativo. Ninguém deve se achar tão bom que não possa ouvir uma crítica construtiva ao seu trabalho. Ninguém é tão bom que se considere superior a qualquer outro profissional. Muitos dos maiores gênios da humanidade foram os mais generosos possíveis.

Bem, acho que vou fazer como o Zé e ouvir o bom e velho Pink Floyd, que sempre tem um belo solo do grande David Gilmour, e relaxar. Afinal, o dia será longo.