sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Crônica de uma paixão idealizada

Nem se conheciam direito, trocaram poucas palavras. Mesmo assim, beijaram-se uma vez. Um beijo roubado, meio desengonçado, nada a ver com aqueles hollywoodianos, cheios de glamour. Mal havia uma história entre eles. Mas, aquela forte atração, aquele desejo de se verem mais, de se abraçarem, insistia em continuar.
Na verdade, ela não tinha como encaixá-lo em sua vida. Ele achava que sim. Esse desencontro provocava situações diferentes das que já tinham vivido. Falavam-se somente uma vez no dia. Não podiam se procurar, telefonar. Mesmo com tão pouco, ele não conseguia tirá-la da cabeça. Mesmo não havendo espaço para ele em sua vida, ela o queria. Nem seus horários combinavam. Ele tinha dois empregos e ainda estudava pela manhã. Ela estudava de noite e trabalhava durante o dia. Pareciam condenados por um feitiço a nunca poderem se encontrar.
Porém, apesar de todos os obstáculos, eles se encontraram da maneira mais inusitada que se possa imaginar. Um dia, seus pensamentos materializaram-se como naquelas fantasias cinematográficas que passam à tarde na TV. Antes que pudessem pensar noutra coisa, seus braços já se entrelaçavam com toda a volúpia. E se amaram como dois animais no cio. E continuaram a se ver, cada vez com mais força e intensidade, mesmo com suas consciências e o mundo dizendo não.
Eles seguiram em frente, correndo como loucos, sem saber aonde tudo isso chegaria. Sabem somente que uma paixão assim não pode ser vivida de outra forma. E, assim será, enquanto existir poesia.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Bálsamo





Cada dia me convenço mais
Do que muitos se esquecem:
De que não é só o rompimento
com a Pré-História
Que transformará
O futuro no Jardim do Éden.
Nem mesmo o prenúncio
De uma fugaz vitória
Pode ocultar as fendas
Que na superfície aparecem.

Sinto o peso do que
Cada recomeço traz na mão:
Estilhaços espalhados
Do que não se pôde ter.
São carcinomas que
Se alimentam de auto compaixão
E que velhos vícios
Insistem em manter
Próximo as artérias
Que conduzem à razão.

A cada dia que passa
Enxergo com mais clareza
Que a nova retórica,
Aliada a velhas virtudes conhecidas
São formas de diminuir a dor
E aumentar a certeza
De que este é o bálsamo
Que vai cicatrizar as feridas
E libertar as vaidades
Que encontravam-se presas.

Todo dia sinto mais forte
Do que a minha própria essência,
De que nada pode deter
O rumo das correntes marítimas
Mesmo que, em algum momento,
Perca a consciência
E decida enveredar novamente
Pelas paisagens mais íntimas
Sem pensar no que ficou
Além das inconseqüências.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

In Memorian

Tudo o que queria era entender como a vida funcionava. Gostaria de saber por que foi tão dura com ele. Poderia ter acreditado mais em si mesmo. Não conseguiu. Nos seus últimos anos, procurou na religião sua paz interior. Não encontrou. Queria que sentissem orgulho dele, e não pena. Sua auto-piedade já lhe fazia mal o suficiente.

Gostaria de ter dado mais conforto à mulher e às filhas. Queria ter comemorado o primeiro aniversário de Larissa. Sempre teve, desde a infância, um olhar perdido e triste. Nunca conseguiu perdê-lo. Podia ter pedalado mais. Não teve tempo. As dores não deixaram. O tumor cresceu e corroeu suas entranhas, seus sonhos, sua vida.

Não pôde usufruir sua bike nova, que havia acabado de ganhar. Nunca mais pedalaremos juntos. Não me ajudará mais nas coisas que combinamos alguns meses antes. Trabalhos incompletos. Projetos deixados pela metade.

Não sabemos se pagaremos a conta de luz amanhã, se usaremos aquele tênis novo que compramos ontem. E aquele texto que não terminei de escrever? E a conversa com os amigos na semana vem? Não sabemos nada. É difícil para mim lidar com perdas assim. Quando é alguém com seus 90, 95 anos, é mais natural e aceitável. Mas, morrer aos 36, numa luta desigual contra si mesmo, no momento em que sua sorte parecia mudar para melhor, é uma grande sacanagem. No mínimo, injusto.

Hoje, faz oito meses que ele se foi. Assim é a vida. Às vezes, pagamos caro pelos nossos erros, nossos medos, nossas escolhas. A lição que fica é o velho clichê: viver a vida como se não houvesse amanhã, sem deixar nada pra depois. Tá bom, sempre ficarão pendências, obras inacabadas (até Beethoven deixou a sua). Porém, devemos tentar. Sempre. Até o fim.

Em memória ao amigo Ademir. Que, finalmente, tenha encontrado a paz.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Meu Selo Maneiro

Ganhei um selo bem legal que vem com brinde da Ana Rosa. Para postar o selo tenho que seguir regras. São elas:
1- Exiba a imagem do selo "Olha Que Blog Maneiro" Que vc acabou de ganhar!!!

2 - Poste o link do blog que te indicou.(muito importante!!!)

3 - Indique 10 blogs de sua preferência.

4 - Avise seus indicados.

5 - Publique as regras.

6 - Confira se os blogs indicados repassaram o selo e as regras.

7 - Envie sua foto ou de um(a) amigo(a) para olhaquemaneiro@gmail.com juntamente com os 10 links dos blogs indicados para verificação. Caso os blogs tenham repassado o selo e as regras corretamente, dentro de alguns dias você receberá 1 caricatura em P&B.

Vamos lá:
1-




3- Meus favoritos são:












4- Serão todos devidamente avisados

5- As regras foram publicadas.

6- Dessa vez vou conferir, hein!!!

7- vou escolher uma e envio logo mais!!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

1982 - A morte do futebol arte












Houve um tempo em que éramos quase imbatíveis. Tínhamos os melhores jogadores, jogávamos mais bonito. Era o chamado futebol arte. Porém, houve outra época em que, mesmo com grandes craques, não obtivemos grandes conquistas em copas. Foi um período de enormes decepções. A maior delas, a mais doída, a mais inusitada e, por isso mesmo, a mais esclarecedora, foi a derrota para a Itália na copa da Espanha, em 1982.

São nas copas que as novas tendências futebolísticas se projetam. Após a vitória da fantástica seleção de 70 – o melhor time de futebol de todos os tempos -, o Brasil chegou à copa de 74 (a primeira na Alemanha) enfraquecido. E, sem Pelé, Tostão, Gerson, Clodoaldo e Carlos Alberto, caímos, na semifinal, diante da grande seleção da Holanda, que praticava o chamado futebol total; seus jogadores não tinham posição fixa, atacavam e defendiam em bloco com a mesma eficiência. Por isso, foram chamados de “Carrossel Holandês”. E ainda possuíam um jogador fora de série: Johann Cruyff. Foi uma das maiores seleções que vi jogar. Infelizmente, a “Laranja Mecânica” azedou na final contra os duros alemães.

Em 78, na Argentina, nada de novo em termos táticos. A dona da casa sagrou-se campeã às custas de um dos maiores escândalos futebolísticos da história. Muita coisa estranha aconteceu naquela noite fria de Rosário, entre Argentina e Peru. Tínhamos uma boa seleção. Ficamos com um terceiro lugar invictos, e “campeões morais”. Mas, a sensação de frustração ficou no ar.
Então, chegamos em 82, na Espanha. Eram muitos craques: Zico, Sócrates, Falcão, Junior, Leandro. E ótimos jogadores, como Cerezzo, Éder, Oscar, Batista e Paulo Izidoro (o original). As exceções eram o esforçado, porém artilheiro, Serginho Chulapa – que só foi titular graças a contusão de Careca, então jovem revelação do Guarani – e o instável goleiro Valdir Peres. E, além de tudo, treinados por Telê Santana, o melhor técnico que eu, em mais de 30 anos de paixão pelo futebol, vi na vida. Um timaço. Ao contrário de outras seleções, o time não saiu desacreditado do Brasil. Todos confiavam nele e em sua capacidade.

Tivemos uma estréia dificílima contra a forte União Soviética. Em seguida, pulverizamos Nova Zelândia e Escócia. Por ser a primeira copa com 24 equipes, o regulando sofreu algumas modificações. Na segunda fase, os 12 times classificados foram divididos em quatro grupos de três seleções. Só o primeiro colocado se classificaria para as semifinais. Enfrentaríamos Argentina e Itália, nossos maiores rivais. A confiança era tanta que nada tirava a certeza do resultado positivo. E foi assim contra a Argentina. Foi indescritível a sensação que senti quanto vi aquele verdadeiro “baile”. E eles já tinham Maradona, que saiu expulso após uma “voadora” em Batista. Três a um. Na segunda rodada, os italianos vencem os argentinos por dois a um. Foi neste jogo que começou a brilhar a estrela de Paolo Rossi, que marcou ali seus primeiros gols no torneio. Brasil e Itália se enfrentariam novamente em uma decisão, como em 70 e 78. Jogaríamos pelo empate. Porém, ninguém em sã consciência tinha dúvida de que venceríamos de novo.

05/07/1982. Era um adolescente cheio de espinhas e apaixonado por futebol. Trabalhava em uma empresa de distribuição de medicamentos. Naquele dia, já acordei pensando no grande jogo. Em todas as rodas de amigos, no café, na hora do almoço, só se falava na partida. “Qual será o placar? De quanto iremos ganhar?” Às quatro da tarde, paramos para ver mais um show. Éramos mais de cinquenta pessoas aglomeradas em frente a TV. Estádio Sarriá, Sevilha. “O que aconteceu com o nosso time? Como aquela equipe medíocre pôde nos vencer?” Lembro-me perfeitamente do silêncio insurdecedor que surgiu após o apito final, da expressão de choro no rosto de quase todos. Foi horrível. Porém, a vida e o futebol seguiram em frente.

Muito se falou sobre aquela impressionante derrota. Para mim, foi ali que os europeus aprenderam a vencer o futebol arte. Em 54, 66 e 74, estávamos um degrau abaixo de Hungria, Portugal e Holanda. Em 82, muito pelo contrário. Os italianos jogaram com muita inteligência. Postaram-se em seu campo, com aquela forte marcação que os caracteriza e exploraram os contra-ataques. Algo muito visto nos dias de hoje, mas, não na época. O time brasileiro não sabia jogar na defesa. Atacar era sua maior virtude e acabou sendo seu ponto fraco.
Demoramos muito tempo tempo para assimilar aquela catástrofe.
Em 86, ainda fomos redimidos pela Argentina do genial Maradona. Em 90... bem, esta eu prefiro esquecer. Foi somente em 94, na copa dos EUA, em nova final contra a Itália, que colocamos em prática as lições deixadas pela “Tragédia de Sarriá”. Mas, isso é outra história.