sexta-feira, 5 de novembro de 2010

80 anos de História

Dona Benedicta - com “c” mesmo - faz 80 anos neste sábado, dia 6. Com muita disposição, discernimento e vontade de viver. Ao vasculhar seu baú de fotografias antigas (a mais velha data de 1935!) comecei a pensar em sua trajetória até chegar aqui. Coisas que já sei e outras que não foram reveladas. Velhas relíquias guardadas com carinho, que falam por si só.

Imagens de uma infância aparentemente tranquila. Viagens à praia do Gonzaga e à Aparecida com a falecida irmã mais velha, Olga. Entretanto, só há uma foto com toda a família: pai, mãe e as filhas. Imagens que mostram uma jovem muito vaidosa, bem vestida. Nada além do normal. Nunca soube se foi namoradeira. É provável. Mas, não é coisa que se pergunte assim, de repente, sem uma preparação prévia.

Ainda jovem, começa a aparecer a figura de uma criança em seu colo. Em todas as fotos, somente ela e seu filho, Fernando. Foi um divisor de águas em sua vida. Imagino o que deve ter passado, em pleno 1954, com todo o moralismo da época. Em outra fotografia emblemática, a do casamento, em 1957, não parece muito feliz. Está com a aparência séria. Em um corte rápido, Benedicta aparece em sua vida conjugal. Uma vida muito mais simples, a única que Olavo, seu marido, pôde lhe dar. A vaidade desaparece quase que por completo. Para completar a família vieram outros três filhos.

As fotos com seu pai, Luis, quase sempre com sua inseparável sanfona, demonstram a proximidade e a afetividade que nutriam um pelo outro. Sua mãe, Sofia, pouco aparece. Os pais separaram-se quando Benedicta era criança. Sua relação com Dona Sofia foi difícil até o fim, com brigas diárias e intermináveis, das quais fui testemunha.

Quando fica viúva, aos 44 anos, Benedicta tem de se virar para sustentar os filhos, o mais novo com apenas oito anos de idade. Nunca havia trabalhado antes. Então, o destino fez surgir uma mulher brava e lutadora, porém, pouco afetiva e carinhosa. Sua vaidade renasce. Os filhos cresceram, casaram, vieram os netos. Hoje, com a idade avançada, mora sozinha, mas não vive só. É extremamente independente: caminha, viaja, faz compras, resolve problemas. Por onde anda faz amizades. Porém, pelo seu temperamento forte e controlador, não conseguiu conquistar a simpatia de suas noras. Ninguém é perfeito mesmo. Nem as mães.

Cada vida que chega tão longe daria um livro. A de Dona Benedicta, com um “c” no meio, não é diferente. Este é apenas um recorte de sua vida, uma singela homenagem. Aquele menino de oito anos, órfão de pai, é este que vos escreve. Parabéns minha MÃE pelos 80 anos vividos com tanta intensidade. Que Deus te abençoe e te conserve com saúde. E que sua longa história ainda demore pra chegar ao fim.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mudança de paradigmas

Qual o significado da eleição de uma mulher para comandar o país? Talvez o mesmo que a eleição de um negro para a presidência dos EUA. Independente das posições políticas e partidárias de cada um, que este seja o início de uma mudança de visão em relação à competência do sexo feminino e dos afrodescendentes para cargos de chefia. Algo que ainda não conseguimos superar neste país machista e preconceituoso.

Porém, ainda é pouco. O número de mulheres que chefiam ou já chefiaram uma nação é pequeno. Pequeno demais se considerarmos a importância que sempre tiveram. Não lhes faltam competência, nem coragem. Não lhes faltam nada. Estamos começando a mudar essa forma distorcida e elitista de enxergar a competência das pessoas, longe dos estereótipos. O jeito tucano de pensar: só os homens, brancos e velhos, do sul e do sudeste é que podiam chegar tão alto.

Se pensarmos na quantidade de negros em cargos majoritários, a situação é pior. Obama é uma feliz exceção. Aqui no Brasil, a possibilidade de termos um presidente negro é quase nula, já que existem pouquíssimos deputados, senadores, prefeitos ou governadores afrodescendentes. Precisamos melhorar muito ainda pra sermos um país justo. A liberdade de credos também é uma utopia distante.

Vivemos um momento importante, de transição, de mudança de paradigmas. Escrevemos a História no exato momento em que ela acontece. Entretanto, não devemos parar logo após as eleições. A vida acontece mesmo quando nos abstemos dela.