segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

SÃO PAULO 456

Ela é um grande paradoxo. Ao mesmo tempo em que acolhe, maltrata. É linda e feia, verde e cinza. Nos orgulhamos de seu gigantismo, de seus números exagerados, mas praguejamos contra seu trânsito caótico.

Vivemos na maior cidade do hemisfério sul, onde a solidão existe e pode ser extremamente cruel. Onde estão as grandes oportunidades e imensas desigualdades. É aqui que escolhi para viver – ou pela qual fui escolhido?

Às vezes me pego pensando em viver uma vida mais tranquila, no litoral, daqui alguns anos... mas, acho que não estou preparado para tanto sossego. São Paulo é um misto de amor e vício, sensatez e insanidade. Está longe de ser o lugar ideal pra se viver, mas eu adoro. E merece todas as nossas homenagens. PARABÉNS SÃO PAULO!


domingo, 17 de janeiro de 2010

FUNDAMENTALISMO E PRECONCEITO

Numa semana marcada pela tragédia no Haiti, um idiota trouxe à tona outros males que contribuem para piorar este nosso triste mundo: o fundamentalismo religioso e o preconceito. A declaração do cônsul do Haiti no Brasil (nem vale a pena seu nome), que culpa a religião do povo pela catástrofe que atingiu seu país é uma das coisas mais estúpidas e bizarras que já ouvi.

As palavras deste senhor (que segurava um singelo terço nas mãos) são apenas a ponta de um iceberg. A ofensa às religiões e ao povo africano ainda é muito comum por aqui, em nosso Brasil miscigenado. Demonizam suas crenças e ritos, sem conhecê-las, como se fossem a própria reencarnação do mal. Tudo muito velado, dito ao pé dos ouvidos cristãos acima de qualquer suspeita. Hipocrisia pura.

Isto sempre me incomodou. Para mim, pouco importa qual a crença das pessoas com quem me relaciono. Isso não altera a essência delas. Não julgar ou depreciar a religião de outros é o mínimo que qualquer pessoa civilizada deve fazer. Mas, além deste preceito ser constantemente desrespeitado, quando se trata das religiões afro-indigenas a coisa fica ainda pior.

O fundamentalismo é nocivo na medida em que faz com que as pessoas deixem de dialogar. Tornam-se arrogantes. Quando se junta ao fanatismo, pode causar danos irreparáveis. Diminuem a importância de suas religiões porque consideram também assim as pessoas. É o velho preconceito étnico-racial disfarçado. Esqueceram de todos os ensinamentos que o Mestre ensinou.

Em um momento em que a solidariedade tem unido tantos adversários históricos, num sinal de que pode haver esperança, declarações como esta mostram que a Humanidade ainda tem muito que evoluir.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

POR QUE O HAITI?

Um país que já estava destroçado, um povo já muito sofrido. A tragédia instalada no quintal da América. Então, vem a natureza mostrar seu poder, justamente a quem pouco tem como se defender. Seria um castigo dos deuses? Todos se perguntam: por que o Haiti? Não há respostas, só o pesar.

Lamentamos pelos mortos espalhados pelas ruas, pelos que ainda não foram encontrados. Pelos desabrigados, as casas destruídas, as escolas, hospitais. Lamentamos pelo choro das crianças órfãs, os pais dilacerados pela perda de seus filhos. Pelo caos que se multiplicou na já caótica Porto Príncipe.

Nessas horas, o sentimento de humanidade, de que somos parte de uma única célula, fica mais exacerbado. O Haiti da fome, da miséria, não merecia atenção ou piedade. Foi preciso um terremoto para que os olhos do mundo se voltassem para aquele povo.

A utopia que resiste em mim me fez pensar em arrumar as malas e partir para lá como jornalista, informando, observando, colhendo impressões e, principalmente, como cidadão do mundo. Contribuir para minimizar os danos irremediáveis. Caí na real. Da perplexidade à impotência em um segundo.

Porém, a pergunta ecoa em todas as casas, em todas as línguas, feita a todos os deuses possíveis e não vai nunca se calar: por que o Haiti?