segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CONTO DE PRIMAVERA / PARTE III - O Início

Ficaram distantes algum tempo. Por trinta dias intermináveis tiveram apenas a voz, a escrita e algumas tentativas de contatos telepáticos para abrandar a saudade. Inutilmente. A necessidade de estarem juntos era quase um vício, uma dependência. Imploravam por um remédio milagroso que pudesse salvá-los. Mas, ele não veio.
Uma nuvem suspensa pairou sobre eles. O mesmo destino que os unira, agora os apunhalava por todos os lados. O pequeno castelo que construíram ameaçava ruir pelas vicissitudes de suas vidas. Grandes dilemas geravam enormes ondas de uma possibilidade que se avistava no horizonte. Ela tentou retomar (em vão) seu antigo projeto de vida, do qual ele não podia compartilhar. Uma verdade que ele deixara soterrada sob toneladas de esperanças. Agora, teria de ajudá-la a curar suas feridas e trazê-la de volta. E esperar. Naquele momento, restavam-lhes as lembranças de seus primeiros momentos, quando tudo começou.
Ela chegou em busca de paz. Quando o conheceu, a simpatia e o interesse foram imediatos. Assim que se apresentou a ela, sua atitude máscula e viril chamou-lhe a atenção desde o início. Algo raro em seu habitat. Ela ainda não conhecia suas qualidades e poderes, que fariam toda a diferença.
A expectativa para ele era de um ano de muitas mudanças e aventuras. E assim foi. De cara, sentiu-se atraído por aquela mulher exuberante e inalcançável. Sua inteligência surpreendeu-lhe positivamente. Da atração para a admiração foi um passo. Quando percebeu que havia conteúdo em toda aquela bela estampa, aproximou-se naturalmente.
A amizade consolidava-se a passos lentos e firmes. A conjunção de seus talentos gerava frutos inesperados. Suas opiniões tornaram-se necessárias. Já se importavam um com o outro. Sem perceber, sentiam a falta de um simples bom dia. Seguiam adormecidos sem saber do turbilhão que os despertariam para a paixão incandescente. Bastava apenas uma fagulha para que o fogo se acendesse. E ela veio, por descuido, sem aviso, em uma manhã como todas as outras. E que levou suas vidas rumo ao olho do furacão.
Como bons caçadores, aceitaram o desafio, mas, não se dobraram facilmente. Ela deixou-o se aproximar apenas para testar suas habilidades. Ele aproveitou-se da oportunidade única e utilizou-se de todas as suas armas para conseguir o que queria. As semelhanças entre si começaram a minar todas as chances de viverem algo descompromissado e passageiro. Ela resistiu o quanto pode. Ele insistiu mais do sabia que podia. E, entre perdas e ganhos, sobreviveram.

Mais uma vez, a fortaleza era posta a prova. Mas, ela possui um ingrediente que pode fazê-la manter-se firme, com ainda mais força: uma indestrutível argamassa de amizade verdadeira.