quarta-feira, 11 de julho de 2012

O CHEFÃO

         Aproveitei as férias e revi um dos meus filmes preferidos: O Poderoso Chefão. Pode parecer estranho, mas se me perguntassem quais os filmes que marcaram minha infância e início da adolescência, no topo da lista estaria a saga de Dom Vito Corleone e sua família. 

E não é pela sua imensa qualidade. Todo mundo sabe que o filme é um clássico, vencedor de Oscars, Palma de Ouro em Cannes, tem atuações esplêndidas e marcou uma época. Um ícone. Porém, naquele tempo, isto era irrelevante pra mim.

Lembro-me de quando passou pela primeira vez na televisão, alguns anos depois de seu lançamento. Fiquei impressionado com tamanha violência (mesmo com tantos cortes, que só descobri anos mais tarde). Porém, não é uma violência gratuita. O filme mostra, de forma crua, sem máscaras, que o mundo é cruel, as pessoas não são boas (nem totalmente ruins), que a vida nunca foi e nunca será um mar de rosas, que nem tudo é como parece ser.  Com a mesma desenvoltura que um membro da “família” estourava os miolos de um inimigo, afagava os cabelos da esposa, filhos ou netos. Tratavam seus negócios escusos como se fosse a atividade mais normal de Nova York.

O crime organizado existe em qualquer lugar, nos países subdesenvolvidos e nos de primeiro mundo. Enquanto uns acreditam na justiça e nas instituições, outros, menos ingênuos, entenderam que os “Corleones” não foram extintos, evoluíram com o tempo, espalharam-se como um tumor pelos meandros do poder instituído e que há muito aposentaram as metralhadoras para utilizar a mídia.

Aqui, em terras verde e amarelas, os antigos banqueiros do jogo do bicho, de atuação restrita às suas comunidades, ficaram obsoletos frente ao poder tentacular de Carlinhos Cachoeira e seus inúmeros políticos e empresários no bolso do paletó. Este sim, uma versão tupiniquim a altura dos personagens de Marlon Brando e Al Pacino.