terça-feira, 29 de junho de 2010

CONTO DE PRIMAVERA - PARTE IV

Chegaram a por um ponto final em sua breve história, apesar da força do amor que insistia em não morrer. Sentiram-se fracos e derrotados como nunca antes. Tentaram extirpar de suas entranhas tudo o que cultivaram todo este tempo. Entraram em total desespero. Como poderiam seguir separados?
Ele era o epitáfio de sua paz, aquela que perdeu quando se encontraram. Porém, não conseguia viver sem sua presença. O fim poderia significar o retorno da tranquilidade que ele não queria. Dois destinos entrelaçados por sentimentos intensos e ameaçados pela visibilidade. Dois seres tão marcantes e complexos, vencidos pelo imprevisível.
Seus dilemas se exacerbaram, ela não conseguia trair suas crenças interiores. Queria a permissão de sua consciência, de sua devoção, para viver seu grande amor. Acreditava em milagres. E, agora, implorava por eles, pelo improvável.
Mais uma vez, a imprevisibilidade acontece. Mesmo com todos os motivos para ir embora, ele resolve ficar novamente. Por quê? Porque, se a argamassa de amizade era indestrutível, a de amor foi modelada em espessas camadas de uma liga inoxidável. Faria qualquer coisa para tê-la de novo, inclusive ir contra a sua própria natureza. Passou a acreditar (mesmo cético) em soluções milagrosas.
Era impossível viver apenas do passado, mesmo um passado recente e forte como o deles. Resolveram seguir em frente, mas ainda não como queriam. Os desatinos e destemperos dele, aos poucos, foram cedendo espaço a uma maior serenidade e compreensão. E assim, os dilemas e receios dela começaram a se dissipar.
A aliança que construíram solidificava-se a cada dia, graças à convivência mais pacífica e as incansáveis juras secretas. E, justamente quando não mais se perguntavam o porquê dessa união, as respostas surgiram no horizonte: salvação e plenitude. O destino os uniu para que salvassem o alicerce de suas vidas e se tornassem seres mais completos. Entenderam que se tudo acontecesse no início com o ímpeto que gostariam, seria tão efêmero que não suportaria tantas dificuldades. A partir daquele momento começariam a ensaiar com mais liberdade seus desejos.
Porém, ainda faltava à ela firmar a decisão de sacramentar os elos de ligação que tanto necessitavam. Um filme, um ícone, uma frase de impacto acendeu nela a luz que faltava: entendeu que se pertencia, que era dona de sua própria morada e senhora de seu destino. Sentia-se como se fosse duas mulheres diferentes, duas vidas distintas, cada qual com suas peculiaridades. Para ele, esta ambigüidade era natural, viveu assim até que ela apareceu para colocá-lo nos eixos. Enfim, seus corações se rejubilaram diante das infinitas possibilidades que se abriam.
Criaram jogos de sedução para burlar a distância que os separavam, como entrada para o prato principal da (nada) santa ceia que preparavam com afinco. Algumas pitadas de libido para apimentar o que já era saboroso. Para este banquete guardavam os melhores trajes de gala que possuíam: a nudez total. Imagens e palavras quentes temperavam um menu de opções que os deixavam mais e mais sedentos um do outro. Toda essa energia guardada provocava faíscas, reflexos de suas personalidades. Porém, nada mais poderia atingi-los.
Os longos dias de frio que passaram em pleno verão começaram a esquentar no outono e prometiam arder no inverno se aproximava. Ligaram o piloto automático para seguirem a espera, na medida do impossível. Até que possam alçar o grande vôo de suas vidas, com as asas com que foram presenteados.

sábado, 19 de junho de 2010

Imortal

Pois é, foi-se mais um gênio da raça humana. Um dos grandes das letras na língua portuguesa da História. Deixou-nos o mestre da razão, justamente durante o circo da Copa, nestes tempos em que a racionalidade não predomina. Calou-se o crítico mordaz deste mundo globalizado, o contestador de todas as religiões.

Saramago deixa um legado de independência em relação ao seu discurso, de liberdade do pensamento. Homem de opiniões fortes e polêmicas, posicionou-se sobre todos os temas importantes de seu tempo. Sua obra nos faz refletir sobre nossa condição neste mundo. Era um questionador, um genial irreverente.

Uma grande e irreparável perda. Este ateu e comunista convicto foi um ícone em vida. José Saramago agora é um imortal. Não um imortal das academias repletas de escritores medíocres. Sua arte viverá enquanto houver inteligência. Algo raro nos dias de hoje. E, que agora ficará mais difícil ainda de se ver.


quinta-feira, 10 de junho de 2010

O espetáculo vai começar

Vai começar o maior espetáculo esportivo do planeta. Os amantes dos Jogos Olímpicos que me perdoem, mas a Copa do Mundo mexe muito mais com os nossos sentimentos. Àqueles mais céticos, que vêem o futebol como forma de manipular as massas, deixem suas intolerâncias de lado e aproveitem o grande circo do futebol, esta metáfora da vida e da guerra. As emoções ficam exacerbadas, a flor da pele: alegrias, decepções, raiva, euforia, tristeza.

Será a décima copa da qual tenho lembranças. Por pior que seja o time, por mais que eu xingue o técnico e alguns jogadores, sempre acabo torcendo pela seleção brasileira. Em nenhuma hipótese para a Argentina. O clima de copa do mundo me contagia. Vai chegando a hora e as ruas começam a ser enfeitadas e pintadas, as camisas vão saindo do armário para tirar o cheiro de mofo, os bolões vão se multiplicando por todos os lados, as conversas nos bares, as discussões acaloradas, as noticias sobre o mundial que monopolizam a TV, o rádio, a internet. Uma maravilha!

Melhor ainda quando começam os jogos. Se pudesse veria todos eles. Os hinos sendo executados, os jogadores perfilados, cantando ou tentando cantá-los (a maioria das mulheres adora este momento para ver os craques de perto). E, enfim, a bola rolando. Quais serão as zebras desta vez? E os favoritos?

Vejo a Argentina com grandes chances de levar o caneco pela terceira vez. Digo isso com muita dor no coração. Se Messi, melhor jogador do mundo, reeditar suas melhores partidas no Barcelona, vai ser difícil segurar os portenhos. Acho que a Inglaterra tem boas possibilidades também. Mas, dependem muito de seu grande jogador, Wayne Rooney. Depois, ponho o Brasil (apesar do time mediano), a Espanha e seu belo toque de bola, a Holanda, com seu melhor time desde 98, e os favoritos de sempre (mesmo jogando mal): Alemanha e Itália.

As zebras...bem, desta vez não vejo nenhuma que possa assustar. Talvez a Costa do Marfim ou o Chile de “El Mago” Valdívia. A Coréia do Sul tem chances de se classificar em seu grupo. Mas, não creio que não irá muito além disso. Enfim, vai começar a maratona de jogos. Veremos quem estará na final, dia 11 de julho.