terça-feira, 30 de setembro de 2008

A VOLTA DO VINIL?

Manchete de uma das reportagens de capa do Jornal da Tarde de ontem: “Chega de saudade! O vinil está voltando!” Vejam só: muitos artistas estão lançando trabalhos em discos de vinil e os fabricantes estão recrutando funcionários para atender a demanda. Será o retorno triunfal de um velho companheiro de baladas?

Para quem foi comprador e apreciador desses discos (tenho uns 200 mais ou menos), não deixa de ser surpresa saber que o velho vinil está ganhando força de novo. Tudo bem, é difícil acreditar que na era do mp3 e das mídias digitais ele volte a ser tão popular quanto antes. Mas, para quem o considerava moribundo, não deixa de ser uma doce vingança.

Tenho muitos amigos que acreditam que a sua qualidade sonora é melhor que a dos cd’s. Não importa. Quando comprávamos um LP antigamente adquiríamos, além da música, todo aquele ritual de abrir o encarte, conferir os créditos e a cara dos músicos - a única chance de vê-los antes dos vídeo clipes.

Era uma outra forma de se relacionar com a música. Discos piratas eram aqueles feitos a partir de gravações em shows sem a autorização do artista e vendidos como oficiais. Não existiam cópias, só se compravam os originais. E eram baratos! Minha coleção poderia ter sido até maior...

Então, vamos viajar um pouco. E se os discos de vinil voltassem a ser a única forma de se obter música? Como seria? Os camelôs morreriam de fome: não há como piratear os LP’s. Nada de tocadores de mp3 ou gravações caseiras no computador. Pra levar alguns “disquinhos” pra ouvir na casa do amigo, leve uma sacola. E bem grande! E o melhor (ou pior): pra curtir aquele sonzão bacana no carro, só gravando em uma fita cassete!

É galera. Ainda gosto muito de ouvir meus discos antigos. Mas, acho que, no máximo, serão mais uma alternativa de mídia para os mais apaixonados. Ser saudosista aos 40 não é nenhum demérito pra ninguém. Mas, tudo tem limites. O passado foi muito bom daquele jeito e não volta mais. Que venha o presente nos mostrar o futuro então.

sábado, 20 de setembro de 2008

Crônica

DE SUPERMAN A MAZZAROPI

DE SUPERMAN A MAZZAROPI
Foi no Cine Marabá, na avenida Ipiranga, que vi o primeiro filme da minha vida, ainda na infância: Superman, aquele com Marlon Brando e Christopher Reeve, o pioneiro dos blockbusters de super-heróis que povoam as salas de hoje. Foi uma festa. O cinema lotado, com quase mil pessoas vibrando com as façanhas do homem de aço. Tudo era novidade para mim; o lanterninha que nos guiava no escuro, o barulho do projetor e a sensação única de ser absorvido por aquela tela gigantesca. Foi inesquecível. Minha segunda experiência - esta nem tão marcante assim - foi com outro herói, este genuinamente nacional; Mazzaropi. Estava com meu tio Zé e mais dois primos, no Cine Estoril, em Osasco, outra referência para mim. Nem me recordo mais o nome do filme. Lembro-me somente que demos pouquíssimas gargalhadas. Acho que o ingênuo humor “mazzaropiano” já estava em decadência.

A partir daí, então, virei um freqüentador assíduo. Nasceu ali, uma relação repleta de namoros, amassos e alguns momentos solitários. Confesso que o excesso de testosterona me fez assistir a algumas pornochanchadas - que monopolizavam o mercado nacional na época, com suas produções baratas e, na maioria das vezes, ruim de doer. Mas, sobrevivi a elas.

Conheci quase todos os cinemas do centrão. E eram muitos. Tinha o Marrocos, com sua imponente fachada de mármore; o Olido, no largo do Paissandu; as duas colossais salas do Cine Ipiranga; o inesquecível Cinespacial, com três telas exibindo o mesmo filme simultaneamente (como bem lembrou meu amigo Marcos Forte). Era fantástico! E, claro, o incomparável Comodoro, na avenida São João, com seu som “stereo surround” e a tela fora do comum, em 70mm. Foi lá que tive um dos grandes prazeres da minha vida quando assisti Pink Floyd, The Wall. A união da grandiosa música do grupo com os delírios visuais do diretor, mais a qualidade sonora da sala, fizeram a cabeça da minha geração. Uma geração que viveu intensamente todas as coisas boas que o centro proporcionava. Além dos cinemas, havia os bares, as lojas, enfim, toda aquela efervescência.

Tudo isso não existe mais. O centro perdeu seu charme. Dos cinemas da região, alguns se tornaram estacionamentos. Outros, igrejas evangélicas. Sem contar os bingos. Os que ficaram exibem apenas filmes pornográficos ou shows de strip-tease e sexo explícito. O padrão Multiplex e Cinemark multiplicou-se pelos shoppings e virou clichê. Até o meu velho Marabá não resistiu: vão dividi-lo em cinco salas pequenas neste conceito americanizado. As produções, por sua vez, ficaram cada vez mais infantis, aceleradas e idiotas. Sinal dos tempos.

A invenção do vídeo cassete, do DVD, a pirataria, tudo isso mudou a relação do cinema com o público. Antes, um filme podia ficar em cartaz por mais de um ano. Hoje, muitos preferem ver os filmes enclausurados em casa, na telinha da televisão. E a relação do cinema com o centro da cidade, essa, talvez nunca mais seja a mesma.

domingo, 14 de setembro de 2008

1º DE JULHO

Quando eu morri, aos oito anos
Descobri que para ser imortal
Não é preciso vencer no final
Nenhum bicho de sete cabeças

Nem tampouco construir
Luxuosos palácios reluzentes
Que servem apenas pra que toda gente
Enxergue o que as lendas deixaram impressas

Aprendi com meu primeiro professor
Que a intensidade das paixões que cativamos
É a exata medida do quanto precisamos
Para nos mantermos vivos após uma partida

Porque o amor incondicional
É mais forte do que qualquer tempo
Atravessa montanhas e vales como o vento
Impregnando-se em cada átomo que nos dá vida

Aprendi com meu grande amigo
Que estar distante de alguém
Não significa morrer também
Mesmo que a memória perca a intensidade

Porque o que fica no coração
De forma alguma se apaga
Pois, na verdade, é ela quem afaga
E transforma a dor em saudade

Poesia dedicada à meu pai...