sábado, 2 de maio de 2009

Solos

No princípio, eram raros e extremamente curtos. Aos poucos, foram sendo aprimorados. Ganharam identidade e foram crescendo em importância e tamanho. Até que surgiram os especialistas, que o tornaram marca registrada, ícone. Ficaram longos e virtuosos. Às vezes, chatos. Caíram e desuso. Foram banidos do paraíso. Voltaram mais econômicos, sem perder o charme. E retornaram ao ostracismo. Onde estão hoje? Talvez escondidos em garagens, nos quatro cantos do planeta.

Os mais jovens devem achá-lo obsoleto e desnecessário. Os mais experientes veneram-no como uma entidade divina. Nem um e nem outro. Para mim, um solo de guitarra tem de ser uma extensão da música, tem de entrar na hora exata, ter feeling – aquele algo mais que te faz assobiar junto e se arrepiar quando escuta um. O melhor exemplo é a abertura e o solo de Little Wing, do mestre dos mestres Jimi Hendrix. É simples, mas tocado com extrema destreza e emoção. Só de pensar, já me emociono.

Detesto exercícios de virtuosismo, como fazem alguns idiotas como Yngwie Malmsteen e Eric Johnson. Aquilo não é Rock. Parece masturbação musical. O cara está lá em cima do palco dizendo: “olha como eu toco bem e rápido pra cacete!” Se acham seres superiores, acima do bem e do mal. Mas, na verdade, não passa de vaidade.

Rock and Roll é diversão, descompromisso. Tudo bem, uma boa técnica sempre engrandece a música. Que o digam, o próprio Hendrix, David Gilmour, Clapton, Jimy Page, Eddie Van Halen, entre tantos outros, que não me deixam mentir. O segredo é deixarem a soberba de lado e não se levarem tão à sério.

E isso vale para qualquer campo das artes. A arrogância, prepotência e o excesso de vaidade acabam minando o processo criativo. Ninguém deve se achar tão bom que não possa ouvir uma crítica construtiva ao seu trabalho. Ninguém é tão bom que se considere superior a qualquer outro profissional. Muitos dos maiores gênios da humanidade foram os mais generosos possíveis.

Bem, acho que vou fazer como o Zé e ouvir o bom e velho Pink Floyd, que sempre tem um belo solo do grande David Gilmour, e relaxar. Afinal, o dia será longo.

2 comentários:

Roberto Fávaro disse...

Grande Jão! Como sempre com um assunto interessante!
A questão virtuosismo aparece claramente no classicismo, com figuras imortais, como Amadeus Mozart e Sebastian Bach que elevaram sua técnica à perfeição, mas mesmo músicos de tamanho gabarito consideravam importante o feeling.
Música é, de fato, 99% suor, 1% sentimento. Com isso quero dizer que é extremamente importante a técnica, mesmo que não se utilize na música, entretanto, esse 1% que é o feeling, faz toda a diferença.
Guitarrista talentosos que às vezes soam inconvenientes, não tem este 1%, o que anula todo o resto.
Um bom solo de guitarra é bem como você escreveu, é sonoro, bonito, coerente com o resto e emociona, ah sim, emociona.

Grande abraço

Alexandre Ofélio disse...

Poxa, vou colocar este texto no nosso informativo METRONOMO. É segmentado e o assunto é música.

Belas palavras e que o Pink Floyd e seus grandes solos possam relaxar os nossos dias.

MOntanha