
Houve um tempo em que éramos quase imbatíveis. Tínhamos os melhores jogadores, jogávamos mais bonito. Era o chamado futebol arte. Porém, houve outra época em que, mesmo com grandes craques, não obtivemos grandes conquistas em copas. Foi um período de enormes decepções. A maior delas, a mais doída, a mais inusitada e, por isso mesmo, a mais esclarecedora, foi a derrota para a Itália na copa da Espanha, em 1982.
São nas copas que as novas tendências futebolísticas se projetam. Após a vitória da fantástica seleção de 70 – o melhor time de futebol de todos os tempos -, o Brasil chegou à copa de 74 (a primeira na Alemanha) enfraquecido. E, sem Pelé, Tostão, Gerson, Clodoaldo e Carlos Alberto, caímos, na semifinal, diante da grande seleção da Holanda, que praticava o chamado futebol total; seus jogadores não tinham posição fixa, atacavam e defendiam em bloco com a mesma eficiência. Por isso, foram chamados de “Carrossel Holandês”. E ainda possuíam um jogador fora de série: Johann Cruyff. Foi uma das maiores seleções que vi jogar. Infelizmente, a “Laranja Mecânica” azedou na final contra os duros alemães.

Então, chegamos em 82, na Espanha. Eram muitos craques: Zico, Sócrates, Falcão, Junior, Leandro. E ótimos jogadores, como Cerezzo, Éder, Oscar, Batista e Paulo Izidoro (o original). As exceções eram o esforçado, porém artilheiro, Serginho Chulapa – que só foi titular graças a contusão de Careca, então jovem revelação do Guarani – e o instável goleiro Valdir Peres. E, além de tudo, treinados por Telê Santana, o melhor técnico que eu, em mais de 30 anos de paixão pelo futebol, vi na vida. Um timaço. Ao contrário de outras seleções, o time não saiu desacreditado do Brasil. Todos confiavam nele e em sua capacidade.


Muito se falou sobre aquela impressionante derrota. Para mim, foi ali que os europeus aprenderam a vencer o futebol arte. Em 54, 66 e 74, estávamos um degrau abaixo de Hungria, Portugal e Holanda. Em 82, muito pelo contrário. Os italianos jogaram com muita inteligência. Postaram-se em seu campo, com aquela forte marcação que os caracteriza e exploraram os contra-ataques. Algo muito visto nos dias de hoje, mas, não na época. O time brasileiro não sabia jogar na defesa. Atacar era sua maior virtude e acabou sendo seu ponto fraco.
Demoramos muito tempo tempo para assimilar aquela catástrofe.
Em 86, ainda fomos redimidos pela Argentina do genial Maradona. Em 90... bem, esta eu prefiro esquecer. Foi somente em 94, na copa dos EUA, em nova final contra a Itália, que colocamos em prática as lições deixadas pela “Tragédia de Sarriá”. Mas, isso é outra história.
Um comentário:
Parabéns!!! Cada vez melhor. A viagem foi maravilhosa através dos tempos, velhos tempos....
Futebol arte? Só saudades. Não vou esquecer nunca a foto do Jornal da Tarde - O menino chorando - 1982
Otimo texto...
Montanha
Postar um comentário