Sem saudosismos, nos últimos meses tenho ouvido muita música dos anos 60. Especialmente a soul music. O nome não podia ser mais apropriado: musica da alma. Essa é a sensação que sinto quando ouço aquelas canções. Elas tocam bem lá no fundo, na alma da gente. A primeira vez que tive contato com elas foi nos anos 80, através do filme “Os Irmãos Cara de Pau (The Blues Brothers)”, que tinha uma trilha sonora absolutamente espetacular. Fui atrás, pesquisei e descobri que eram clássicos do blues e soul, sem distinguir o que era um e o que era o outro. Nasceu aí, meu caso de amor pelos dois.
Alguns anos depois, outro filme veio sedimentar essa paixão: “The Commitments” (que teve um subtítulo nacional imbecil – “Loucos Pela Fama”). Era a história de jovens irlandeses pobres que, por pura paixão e em pleno início dos anos 90, resolvem montar uma banda e aventurar-se pelo gênero. Comprei o disco e comecei a me interessar pelos originais. Lembro-me de uma frase que o protagonista dizia: “os irlandeses são os negros da Europa”. Não me lembro bem o porquê. Deve ser pelo fato de serem discriminados pelos primos ricos do continente – guardadas as suas devidas proporções.
A este altura, já estava completamente hipnotizado pela atmosfera soul. Conheci a Motown, gravadora fundada em, 1959, em Detroit, por um visionário chamado Berry Gordy Jr. Ele conseguiu captar o novo som que era feito pelos negros nos EUA, uma época em que o rock de Chuck Berry e Elvis começava a dar sinais de cansaço. O som da Motown tinha algumas características marcantes: seus arranjos continham harmonias recheadas de instrumentos de corda e muita influencia da música gospel. Outra gravadora importante foi a Stax, fundada em 1957 por Jimmy Stewart, em Memphis. Sua sonoridade era bem diferente. Tinha um som mais cru e denso, com uma pegada mais blues e rock.
Nem todos os grandes artistas Soul são da Motown ou Stax. Porém, todos tiveram uma importância capital para a evolução da música dos anos 60 e das décadas seguintes (negra ou não). Basta dizer que artistas dos mais diversos gêneros como os Beatles, os Stones, Prince, os Chilli Peppers e, mais recentemente, Joss Stone e Amy Winehouse, beberam de suas águas. Nos anos 70 e, em menor número nas décadas seguintes, mais clássicos foram paridos sob a alcunha do soul. Houve, ainda, a evolução para uma música mais dançante, o funk - o original, não o lixo carioca de hoje. Porém, as maiores pérolas foram criadas na década de 1960.
3 comentários:
É João, cada vez melhor!!! Muito bom o texto. Época de ouro.
Aliás, bem que o senhor poderia fazer deste blog um espaço só para as preciosidades do passado. Este texto e o do cinema, são memoráveis!!!
Parabéns,
Montanha
Bem, não sou tão antigo assim... rs
Muito bom texto João. Esse é o caminho.
Devemos demonstrar a todos o que realmente gostamos, sem hipocrisia.
Abs,
Boa João....Acredito que não é saudosismo...O som daquela época é algo inexplicável, único. E os artistas que você citou como a Amy e a Josh Stone fizeram sucesso por jogar no certo. Esse som é infalível, jamais estará fora de moda ou de contexto. Ótimo texto...Parabéns!!!
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