sábado, 30 de agosto de 2008

Falhas Estruturais

Após a derrota para a seleção Argentina, nas semifinais do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Pequim, me fiz a seguinte pergunta: porque os jogadores argentinos amadurecem mais rapidamente que os brasileiros? Será que as categorias de base dos times de lá são mais eficientes que as nossas?

Vejamos os fatos: Sérgio Agüero estreou no time principal do Independiente aos 15 anos. Hoje, com 19, é uma das principais promessas do futebol mundial, eleito o melhor jogador do último mundial sub-20 e principal jogador do Atlético de Madrid; Lionel Messi, aos 20 anos, é um dos maiores craques atuais, titular absoluto do Barcelona e da seleção de seu país, só para citar os mais conhecidos.

Robinho explodiu para o futebol em 2002, e mesmo hoje, aos 23, ainda não alcançou um estágio que o credita a ser um dos grandes jogadores da atualidade. Lulinha, atacante corintiano, 18, há pouco tempo era tido como maior promessa do clube, com o valor de sua multa contratual estipulada em U$ 50 milhões. Hoje, após vários jogos pelo time principal, é vaiado pela torcida, marcou poucos gols e sua qualidade é questionada.

Alexandre Pato, 18, é tratado como o novo messias do futebol brasileiro. É um jogador predestinado a marcar gols importantes, mas, até agora, não mostrou nada de excepcional. No mesmo mundial sub-20 onde Agüero brilhou, Pato foi uma decepção atuando ao lado de jogadores da sua idade.

Este é um problema estrutural do nosso futebol. Existem falhas nas categorias de base dos clubes brasileiros. Nossos futuros craques chegam aos times principais sem saber os principais fundamentos do futebol. Sabem driblar, claro, pois é o nosso diferencial, o que nos tornou cinco vezes campeões mundiais.

Mas, no futebol atual, o drible tem de ser mais econômico e objetivo. Fundamentos essenciais como passes e chutes ao gol, não são trabalhados como deveriam. Esqueceram as lições que Pelé nos deixou: simplicidade nos dribles, objetividade total e competência em todos os fundamentos. Não estou querendo que sejam novos pelés, afinal, o rei fazia tudo isso próximo da perfeição. Mas, é “o” modelo a ser copiado.

Vários de nossos jogadores só aprendem a jogar com mais objetividade depois que vão para a Europa. Não deveria ser assim. Imagine se fossem para o velho continente melhor preparados. Chegariam aos seus clubes com maiores chances de mostrar a essência do futebol brasileiro.

Kaká é o exemplo clássico. Foi somente após sua chegada ao Milan que ele deslanchou e tornou-se o melhor jogador do mundo. Com justiça, diga-se de passagem. Ninguém em sua época de São Paulo poderia imaginar que chegaria tão longe. Ou seja, falta visão às pessoas ligadas ao futebol de base e também aos técnicos dos times principais.

Não tenho comigo a solução mágica para que estes problemas se resolvam da noite para o dia, nem a pretensão de ser o dono da verdade. Mas, é assim que eu vejo a realidade futebolística por aqui. A questão agora é saber se as pessoas responsáveis por estes garotos enxergam tudo isso. Se não, tudo ficará como está e, daqui a alguns anos, nossos vizinhos (bons de bola também) alcançarão o topo do futebol com mais qualidade e quantidade do que nós.

domingo, 24 de agosto de 2008

Nossa dura realidade

Acabaram os Jogos Olímpicos de Pequim. Provavelmente, muitos jornais e telejornais abrirão com manchetes parecidas com esta: “Brasil tem o melhor desempenho da história”. Se analisarmos os números friamente, o desempenho brasileiro foi realmente bom. Afinal, nossos atletas ganharam mais medalhas no total, mas com um ouro a menos do que em Atenas, em 2004. Porém, a sensação de frustração ficou no ar. Alguns dos brasileiros mais cotados a ganhar medalhas, decepcionaram no momento crucial. Parece que não estavam psicologicamente preparados para uma pressão deste tamanho. Retornamos, então, à nossa dura realidade.

Claro que as Olimpíadas são um grande espetáculo e que o esporte ajuda na inclusão das pessoas. Mas, não podemos pensar em um desenvolvimento do país levando-se em conta apenas nossa 23ª colocação no quadro de medalhas. Ficamos atrás dos subdesenvolvidos Jamaica, Etiópia e Quênia. Em contrapartida, ficamos à frente dos altamente ricos Suécia, Nova Zelândia e Dinamarca. Há muito mais a ser feito. Estamos na 70ª posição no IDH, ranking de qualidade de vida, que analisa educação, saúde e renda. Atrás, na América Latina, de Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica, Cuba etc. Também nunca vencemos um prêmio Nobel, que premia a excelência tecnológica e de pesquisas cientificas. Retornamos à nossa dura realidade.

Não estou dizendo que não devemos investir pesadamente no esporte. Apenas acredito que isto não deve tornar-se uma obsessão, visando apenas a possível realização de uma Olimpíada no Rio de Janeiro, em 2016. A prática esportiva deve fazer parte dos currículos escolares - com mais seriedade - desde a infância até a universidade. Isso traria benefícios enormes. Daria a algumas crianças a oportunidade de uma carreira interessante. Se isso não acontecer, pelo menos terão uma qualidade de vida melhor. Porém, estamos muito longe disso. Muitos talentos se perdem por aí por falta de infra-estrutura. Esta é a nossa dura realidade.

César Cielo, Maureen Maggi e as meninas do vôlei estão sendo tratados como heróis. Em um país tão carente de bons exemplos, é perfeitamente compreensível. A confiança demonstrada por Cielo antes da prova que o consagrou foi impressionante. Maureen superou vários problemas, como uma punição injusta por doping. A seleção feminina de vôlei conseguiu vencer o forte trauma da derrota nas semifinais em Atenas. O esporte é uma metáfora da vida; as derrotas não devem nos derrubar, e sim, nos tornar mais fortes. Precisamos deixar nosso “complexo de vira-latas” de lado e começar a mostrar que somos capazes de resolver nossas deficiências. Promover a igualdade social e racial, acabar com o analfabetismo e a mortalidade infantil, entre outras mazelas. Assim, mudaremos esta dura realidade.

sábado, 16 de agosto de 2008

Democracia

Muitos lutaram e morreram por ela. Também muitos crimes foram cometidos em seu nome. É o governo do povo, pelo povo, para o povo. Assim me ensinaram na escola, lá pelos anos setenta. Ironicamente, naquela época, a ditadura estava firme e forte. Quando penso em democracia, duas palavras me vêm à mente; representatividade e participação. Na teoria, é o regime em que o povo é plenamente representado. Pode ser que seja assim em alguns países. Porém, não vejo isso por aqui. Vivemos uma democracia de papel. Não participamos inteiramente dela e nela não somos representados igualmente. Não vivemos uma democracia racial. Muito menos social. O voto - que é um direito - ainda é obrigatório. O alistamento militar também. Sem contar que boa parte dos nossos meios de comunicação são tendenciosos, representam outros interesses.

Em época de eleições, o sentimento democrático vem à tona, aparece em toda parte e nos dá a sensação de que somos realmente participativos. Afinal, quando votamos estamos vivenciando o momento máximo de qualquer democracia. O problema é que despertamos politicamente apenas de dois em dois anos, como se nossa participação se resumisse somente nisso. O resultado está aí; governos corruptos e direitos básicos desrespeitados. Ignoramos que fazemos política o tempo todo: em família, na faculdade, no trabalho. Então, se participamos ativamente nestes núcleos, porque não para reivindicar algo para o nosso bairro, cidade?

Até a década de sessenta, os estudantes e a sociedade em geral participavam muito mais das decisões políticas (grandes e pequenas) do país do que hoje. Depois de tantos anos sem liberdade de expressão, as gerações seguintes tornaram-se – com a ajuda da mídia – mais alienadas e individualistas. O pensamento dominante é que devemos nos comportar como cordeiros. Nada de passeatas e panelaços. É coisa de baderneiros. Tudo bem, os tempos são outros. Menos românticos e idealistas. Afinal, os empregos tornaram-se mais escassos e o medo de perdê-los, cada vez maior. Mas, não é por isso que vamos nos comportar como se não houvesse mais nada além do nosso próprio umbigo. Não sinto em nós, paulistanos, uma “paulistaneidade”. Ou seja, falta um sentimento de amor pela cidade, de respeito aos seus espaços públicos e a noção exata de ela é de todos, não só de um pequeno grupo ou elite.

Agora, temos uma nova chance de elegermos um administrador para nossa imensa cidade, com seus problemas e desigualdades em igual proporção. E também, novos representantes na Câmara Municipal (virou piada, mas é isso que eles são). Devemos participar, exercer nosso direito e eleger quem achamos que será o melhor para estes cargos. Porém, nossa participação não acaba aí. De várias formas podemos cobrar o que nos é de direito. Uma delas é esta: escrevendo o que pensamos, falando com as pessoas, tentando trazer a discussão política para o nosso meio. E, enquanto não vamos para as ruas, o blog é uma das ferramentas mais democráticas que temos.

domingo, 10 de agosto de 2008

Dia dos Pais

Hoje é o Dia dos Pais. Seria mais uma data comemorativa (entre tantas outras) criada apenas para ajudar o comércio e aquecer a economia? Se pensarmos com frieza, analisando o que acontece ano após ano, a resposta é sim. Mas, não é sempre que a razão deve agir em detrimento de nossas emoções.

Para quem conviveu com o pai só até os oito anos de idade, com pouquíssimas lembranças que possam ilustrar essa relação, é um dia importante, sim. Para quem recebeu a noticia de sua morte de forma traumática e teve sua infância abruptamente paralisada até o início de sua adolescência, a ponto de afastar-se das pessoas, sim, é um dia importante. Para quem, até os 26 anos, sentia uma profunda tristeza neste dia, é importantísimo.

Depois do dia 25 de novembro de 1990, a data passou a não ser mais tão nostálgica e triste. Nasceu Juliana, sem dúvida, minha maior criação e, também, minha redenção. Procurei dar a ela tudo o que não tive – ou tive por tão pouco tempo: carinho, companheirismo, broncas. Participei de todos os seus momentos até aqui. Troquei fraldas, levei ao médico, vou a reuniões de escola (ontem mesmo, briguei com um de seus professores). Tudo sem o menor sacrifício.


E vai ser sempre assim, até o fim. Se existe amor eterno e incondicional, é este; entre pais e filhos, filhos e pais. Um abraço aos que já são pais – em especial a memória do meu amigo Ademir, que nos deixou há dois meses. E, aos que ainda tem o privilégio de poder abraçar o seu, não percam esta oportunidade. Mesmo que pra você seja apenas mais uma daquelas datas comemorativas.