terça-feira, 22 de dezembro de 2009

CONTO DE PRIMAVERA - PARTE II

E o desejo se multiplicou. Tudo tomava proporções hiperbólicas. Dias pareciam anos. Beijos, o êxtase. Suspiros, desencantos. A paixão era incessante. Ele passou a acreditar em vidas passadas, tamanha a comunhão que existia. Ela simplesmente já sabia. Aceitavam-se exatamente como chegaram até ali, com toda a carga que trouxeram consigo. E reconheceram-se como tudo aquilo que sonharam para si até aquele momento.
Dúvidas existenciais permeavam seus ideais de felicidade. Completavam-se. Entendiam-se na perfeição de seus devaneios. Pensar no outro era tão normal que já se percebiam presentes até nas pequenas coisas do dia-a-dia. À medida que se aproximavam de sua união, aumentava a certeza de que uma força superior os colocara lado a lado por algum sublime propósito. Seriam ecos de outras vidas? Talvez.
Para sintonizar os dois destinos travaram batalhas heróicas em suas trincheiras. O medo e o desejo lutavam bravamente dentro dela, num conflito em que apenas um poderia sair-se vencedor. A espera era insuportável para alguém tão impaciente e desatinado como ele. O tamanho da expectativa que depositava em suas costas poderia feri-la de morte. A impossibilidade dava-lhe socos no estômago, deixavam-no desorientado. Suas recaídas quase puseram tudo a perder. Era uma situação nova em sua vida, muito além de seu entendimento. Algo que ela, mais centrada, conseguia enfrentar com serenidade.
Porém, apesar de todas as incertezas, tudo valia à pena. Ensinava-o a viver um dia de cada vez. Buscava a coragem que ele possuía de sobra e tentava adaptar-se as novas regras. Pensaram em desistir, por um ponto final em sua breve história. Mas, suportavam as adversidades em defesa de suas convicções apaixonadas.
Então, em um lampejo de razão, ele decidiu aquietar seu coração e esperar. Agora, não havia mais como voltar a paz e tranquilidade de antes. Queriam se pertencer na plenitude de seus delírios...
E o desejo venceu. Todos os sonhos, as fantasias e o tesão guardados por toda a primavera eclodiram no verão. Nada mais existia além de seus corpos unidos em prol do amor verdadeiro. O sabor de suas carnes permanecia em suas entranhas, sem que nada pudesse tirá-lo. O medo persistia. Mas, eles ainda continuavam ali, onde ninguém podia vê-los. Onde as paixões se alimentam de sonhos, de promessas. Não sabem até quando ficarão. Nem podem saber. As palavras do poeta ecoam em alto e bom som: será para sempre enquanto for possível.

4 comentários:

Alexandre Ofélio disse...

Ótimo texto!!!

João, Feliz 2010 - Que neste novo ano você consiga realizar todos os seus sonhos. Que seja repleto de conquistas e felicidades.

Rumo ao 4º ano!!! Valeu a luta

Montanha

Blog do Hermann disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Blog do Hermann disse...

Fala ai João

Tudo na paz de Jah?

Adorei essa iniciativa de blog- novela. Continue esse conto. Estou ansioso a ler o próximo capítulo.

Abraços e Saudações Ecolibertárias

Mauricio Hermann

Anônimo disse...

João, simplesmente achei comovento seu texto, ele tocou diretamente ao coração.Ao lê-lo pude compartilhar, nem que seja um pouco, da emoção dos personagens.

Se o amor é belo... a paixão é comovente e extasiante!

Como diria o sábio Vinicius de Moares, "que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja eterno enquanto dure...


Beijos =)

Luciana Ramos