sábado, 22 de agosto de 2009

20 anos sem Raul

Conheci Raul Seixas ainda criança, no dia em que meu irmão Valter, cinco anos mais velho e já iniciado no mundo do Rock e da MPB, chegou em casa com o “Krig-Ha Bandolo” debaixo do braço. Assim que a agulha da vitrola tocou o vinil, a paixão e identificação foram instantâneas. Rock com sotaque brasileiro, letras inteligentes, irônicas, sarcásticas, exotéricas, bem humoradas. Todo esse caldeirão de ideias mexeu comigo. Quem era aquele barbudo magricela que cantava coisas tão malucas, tão diferente de tudo o que se ouvia na época?

Raul era anárquico, livre e extremamente consciente de tudo o que rolava ao seu redor. Para os caretas, era apenas um doido varrido. Para os que o admiram, Raulzito traduz um sentimento atemporal de viver longe das amarras que nos prendem a uma vida medíocre. Ele viveu tudo aquilo que cantou, como um cientista que se presta a ser cobaia de suas próprias experiências. E sofreu as consequências por isso.

Ele foi político sem tomar partido de nenhum movimento. Falou de amor, com verdade, sem apelação e sem soar piegas. Falou de misticismo, sem se prender a nenhuma religião. Foi o início, o fim e o meio. A metamorfose ambulante, a mosca na sopa, o sapato 36, o cachorro urubu em guerra com os “EU”. Seu legado ainda está intacto e com muito a ser descoberto.

As histórias e lendas que cercam sua vida são um capítulo à parte. Uma delas, contada por amigo de meu irmão chamado Daniel, conta que o “Maluco Beleza”, nos anos 70, esteve num boteco perto de onde morávamos, um bairro da periferia de Osasco. Tomou cachaça com a rapaziada e tudo mais. Esta “visita” está registrada em livro por um irmão do Daniel. Cresci ouvindo esta história e até hoje não sei se é verídica ou não. Pretendo resgatá-la um dia.

Ontem, na Praça da Sé, junto com milhares de outros fãs, prestei minha homenagem como tinha de ser: cantando suas canções junto com os amigos. Somente um artista como ele pode aglutinar pessoas tão diferentes em torno de sua obra. Foi um grande momento de celebração a vida e a música.

Em 1989, Raul pegou carona com o moço do disco voador e, desde então, vive por aí, neste mundão de Deus, rindo de nossa cara ou meio irritado com o que estamos fazendo de nossas vidas e de nosso planeta. Quem sabe um dia ele não volta no metrô linha 743.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O primeiro

As primeiras vezes são sempre marcantes:
O primeiro beijo e a primeira noite de amor. O primeiro gole quando se está com sede. A primeira professora, o primeiro gol, a primeira mordida na maçã. O primeiro filho, suas primeiras palavras, os primeiros passos, a primeira decepção. O primeiro dia após a chegada dos hormônios. E o primeiro emprego.
Hoje, Juliana inicia sua caminhada rumo à própria independência. Ela carrega muito deste espírito livre dentro de si. É um momento de crescimento, de fortalecimento da auto-estima. Que ela tenha mais sorte e competência do que eu. Estarei ali, ao lado, pra dar uma força sempre que ela precisar...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Guerreiro da Igualdade e da Paz

Ele é um guerreiro negro segurando a bandeira branca da igualdade e da paz. Para os usurpadores, era um perturbador da ordem vigente, um guerrilheiro. Quando a humilhação de seu povo ficou insuportável, empunhou as armas e lutou bravamente. Tornou-se estrangeiro em seu próprio país. Perdeu a liberdade, mas não o orgulho. Sua voz, mesmo sufocada, não se calou. Tentaram comprar sua alma, porém ele nunca traiu seus irmãos. Tentaram baixar sua cabeça, quebrar suas pernas, mas o mundo conheceu sua história e clamou por justiça.
Então, os mesmos que o prenderam foram obrigados a soltá-lo. O guerreiro da igualdade e da paz, finalmente, estava livre. Mesmo após tanto tempo de cárcere, seu rosto tinha uma serenidade que transcendia nosso entendimento. Ele mostrou que era maior do que todos aqueles que o feriram. Para muitos, seria a hora da vingança, de tomar de volta tudo aquilo que lhe foi tirado. Não para ele. Em seus sonhos não havia espaço para mais um banho de sangue. Queria ver seu país em harmonia. E governou para todos, sem distinção de raça e cor. Não foi unânime, cometeu equívocos. Afinal, é humano como todos nós. Mas, não um humano qualquer. Talvez uma evolução da raça, calejado pelo sofrimento e enobrecido pelo perdão.
É o símbolo máximo da luta pela igualdade racial de nossos tempos. E o melhor de tudo: ele ainda está entre nós, vivo e atuante. Não precisamos reverenciar apenas os mártires desta causa. Aos 91 anos, completados em 18 de julho deste ano, a vida de Nelson Mandela tem de ser celebrada por todos aqueles que acreditam que o dia em que ninguém mais fará distinção de uma pessoa por sua raça e cor ainda chegará.
Viva Mandela!!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Aniversário

Hoje, o Blog do Bigod faz um ano. Um ano de muito aprendizado, na prática e através dos amigos blogueiros. Agradeço aos que me incentivaram a começar. Relutei bastante, tinha um certo receio da exposição, da responsabilidade que isso traria. Besteira. Criar o blog só me ajudou a escrever melhor.

Quero agradecer aqueles que leram, que comentaram, que discordaram do que escrevi. Aos elogios também (e as críticas quando vierem). É bom recebê-los, mas, tento não deixar que me tornem acomodado ou deslumbrado.

Enfim, espero continuar escrevendo neste espaço (e em outros, claro). E encontrar aquilo que venho buscando há tempos: um estilo próprio de falar de coisas simples e complexas, de hoje e de ontem, de dentro e de fora. O apoio de vocês é fundamental pra mim.

Quero celebrar este momento e agradecer. Obrigado a todos.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A revolução

É impressionante como a nossa sociedade acostumou-se com o lixo, com o sujo, o errado. É só dar uma olhada a nossa volta.
Parece normal andar pelo centro da cidade e ver o lixo espalhado pelas ruas e calçadas (como no Parque Dom Pedro). Ver o rio Aricanduva transbordando de sujeira em dias de chuva. Ver o nosso sistema levando os jovens da periferia a tornarem-se criminosos. Ver as Ong’s tentando resgatar alguns poucos, como se estivesse segurando água com uma peneira. Ver nossa mídia tendenciosa manipulando informações à revelia do povo.
Parece normal assistir ao achincalhamento público do Congresso Nacional, que deveria nos representar. Ver que aqueles que hoje acusam, já cometeram e cometerão os mesmos crimes dos que estão sendo acusados. Ver os mais ricos sonegarem impostos, enquanto as classes médias pagam o pato. Ver as pessoas se matando no trânsito, por imprudência e negligência. Parece normal ver crianças e adolescentes ouvindo músicas que fazem apologia ao crime e ao sexo.
Parece normal, mas, tenho certeza de que não é. Calma, senhores e senhoras, não me converti a nenhuma dessas igrejas que condenam a todos, como se só eles estivessem certos. Só estou cansado de ver tanto egocentrismo, comodismo, tanta impunidade. Estou cansado de ver tanta gente agindo pelo senso comum, sem personalidade. De ver que a “Lei de Gerson” (a que dizia ‘gosto de levar vantagem em tudo’) virou regra. De ver tanta falta de educação. Porém, me sinto como um camundongo lutando contra a vassoura, parece algo maior do que eu. Acho que só a união pode vencer o medo e a inércia. Então, como unir todos os que pensam assim?
Como disse outro dia no blog da Michele, apesar dos 40, ainda carrego um pouco de utopia dentro de mim. Sem aquela ingenuidade de antes, mas ainda esta aqui. Em contrapartida, também carrego este egoísmo característico dos nossos tempos. De olhar muito para dentro de si próprio.
Contudo, as qualidades inerentes à nossa profissão nos forçam a enxergar o mundo com uma luneta. Sair de nosso mundo interior, buscar o externo. Por isso, nós, futuros (e atuais) jornalistas somos um veículo fundamental para a mudança. Ou, como diria meu amigo Beto, "a educação é a revolução".