
Raul era anárquico, livre e extremamente consciente de tudo o que rolava ao seu redor. Para os caretas, era apenas um doido varrido. Para os que o admiram, Raulzito traduz um sentimento atemporal de viver longe das amarras que nos prendem a uma vida medíocre. Ele viveu tudo aquilo que cantou, como um cientista que se presta a ser cobaia de suas próprias experiências. E sofreu as consequências por isso.
Ele foi político sem tomar partido de nenhum movimento. Falou de amor, com verdade, sem apelação e sem soar piegas. Falou de misticismo, sem se prender a nenhuma religião. Foi o início, o fim e o meio. A metamorfose ambulante, a mosca na sopa, o sapato 36, o cachorro urubu em guerra com os “EU”. Seu legado ainda está intacto e com muito a ser descoberto.
As histórias e lendas que cercam sua vida são um capítulo à parte. Uma delas, contada por amigo de meu irmão chamado Daniel, conta que o “Maluco Beleza”, nos anos 70, esteve num boteco perto de onde morávamos, um bairro da periferia de Osasco. Tomou cachaça com a rapaziada e tudo mais. Esta “visita” está registrada em livro por um irmão do Daniel. Cresci ouvindo esta história e até hoje não sei se é verídica ou não. Pretendo resgatá-la um dia.
Ontem, na Praça da Sé, junto com milhares de outros fãs, prestei minha homenagem como tinha de ser: cantando suas canções junto com os amigos. Somente um artista como ele pode aglutinar pessoas tão diferentes em torno de sua obra. Foi um grande momento de celebração a vida e a música.
Em 1989, Raul pegou carona com o moço do disco voador e, desde então, vive por aí, neste mundão de Deus, rindo de nossa cara ou meio irritado com o que estamos fazendo de nossas vidas e de nosso planeta. Quem sabe um dia ele não volta no metrô linha 743.