
No princípio, eram raros e extremamente curtos. Aos poucos, foram sendo aprimorados. Ganharam identidade e foram crescendo em importância e tamanho. Até que surgiram os especialistas, que o tornaram marca registrada, ícone. Ficaram longos e virtuosos. Às vezes, chatos. Caíram e desuso. Foram banidos do paraíso. Voltaram mais econômicos, sem perder o charme. E retornaram ao ostracismo. Onde estão hoje? Talvez escondidos em garagens, nos quatro cantos do planeta.
Os mais jovens devem achá-lo obsoleto e desnecessário. Os mais experientes veneram-no como uma entidade divina. Nem um e nem outro. Para mim, um solo de guitarra tem de ser uma extensão da música, tem de entrar na hora exata, ter feeling – aquele algo mais que te faz assobiar junto e se arrepiar quando escuta um. O melhor exemplo é a abertura e o solo de Little Wing, do mestre dos mestres Jimi Hendrix. É simples, mas tocado com extrema destreza e emoção. Só de pensar, já me emociono.
Detesto exercícios de virtuosismo, como fazem alguns idiotas como Yngwie Malmsteen e Eric Johnson. Aquilo não é Rock. Parece masturbação musical. O cara está lá em cima do palco dizendo: “olha como eu toco bem e rápido pra cacete!” Se acham seres superiores, acima do bem e do mal. Mas, na verdade, não passa de vaidade.
Rock and Roll é diversão, descompromisso. Tudo bem, uma boa técnica sempre engrandece a música. Que o digam, o próprio Hendrix, David Gilmour, Clapton, Jimy Page, Eddie Van Halen, entre tantos outros, que não me deixam mentir. O segredo é deixarem a soberba de lado e não se levarem tão à sério.
E isso vale para qualquer campo das artes. A arrogância, prepotência e o excesso de vaidade acabam minando o processo criativo. Ninguém deve se achar tão bom que não possa ouvir uma crítica construtiva ao seu trabalho. Ninguém é tão bom que se considere superior a qualquer outro profissional. Muitos dos maiores gênios da humanidade foram os mais generosos possíveis.
Bem, acho que vou fazer como o Zé e ouvir o bom e velho Pink Floyd, que sempre tem um belo solo do grande David Gilmour, e relaxar. Afinal, o dia será longo.