E
não é pela sua imensa qualidade. Todo mundo sabe que o filme é um clássico,
vencedor de Oscars, Palma de Ouro em Cannes, tem atuações esplêndidas e marcou
uma época. Um ícone. Porém, naquele tempo, isto era irrelevante pra mim.
Lembro-me
de quando passou pela primeira vez na televisão, alguns anos depois de seu
lançamento. Fiquei impressionado com tamanha violência (mesmo com tantos
cortes, que só descobri anos mais tarde). Porém, não é uma violência gratuita.
O filme mostra, de forma crua, sem máscaras, que o mundo é cruel, as pessoas
não são boas (nem totalmente ruins), que a vida nunca foi e nunca será um mar
de rosas, que nem tudo é como parece ser. Com a mesma desenvoltura que um membro da
“família” estourava os miolos de um inimigo, afagava os cabelos da esposa,
filhos ou netos. Tratavam seus negócios escusos como se fosse a atividade mais
normal de Nova York.
O
crime organizado existe em qualquer lugar, nos países subdesenvolvidos e nos de
primeiro mundo. Enquanto uns acreditam na justiça e nas instituições, outros, menos
ingênuos, entenderam que os “Corleones” não foram extintos, evoluíram com o
tempo, espalharam-se como um tumor pelos meandros do poder instituído e que há
muito aposentaram as metralhadoras para utilizar a mídia.
Aqui,
em terras verde e amarelas, os antigos banqueiros do jogo do bicho, de atuação
restrita às suas comunidades, ficaram obsoletos frente ao poder tentacular de
Carlinhos Cachoeira e seus inúmeros políticos e empresários no bolso do paletó.
Este sim, uma versão tupiniquim a altura dos personagens de Marlon Brando e Al
Pacino.